A leitura do livro veio pela indicação de uma grande amiga Celia Cristo. Esse presente chegou em um momento em que eu vivenciava muita desesperança dentro do meu coração. A atual conjuntura política só vem para massacrar as massa vulnerabilizadas que são o povo preto e a nação indígena.
Com muita vergonha confesso que não conhecia Ailton Krenak. Me envergonho porque ele é porta voz de um debate político que atravessa a existência do mundo. Não sou indiferente, mas cometi essa gafe.
O autor descreve a sensação de pisar na terra do seu algoz. A dor é ancestral, cada um lida com ela de uma forma.
Ele me chama atenção para datas que podem ser comemorativas para o norte e ser grande tristeza para o sul (genocidado, escravizado e torturado).
Me recordo que a uns anos atrás passei minhas férias em Chicago nos Estados Unidos e nesse interim chegou o dia 12 de Outubro, na ocasião era feriado e eu pude assistir a grande parada em comemoração do dia de Colombo, comemoração do “descobrimento da américa” o famoso Colombus days. Um desfile de gente branca, grande parte de descendência Italiana, vestindo seus trajes típicos de confrarias, várias bandeiras, um olhar irônico e “superior” para os que os assistiam. Eu enquanto mulher negra fiquei incomodada, logo fui me informar mais sobre o assunto e para minha felicidade descobri que há um debate bem sério em abolir essa data pois ela é a comemoração do genocídio indígena, dizimação de uma nação, não há nada o que comemorar. Em alguns locais dos Estados Unidos o feriado foi retirado e em outros foi trocado pelo Dia dos Povos indígenas.
Em seu livro Krenak fala da relação dos povos originários com a natureza. Eles são uma coisa só pois tudo é natureza. Isso me fez lembrar que o homem, nesse caso o homem branco eropeu, tem uma relação hierárquica com a natureza e se coloca superior a ela. Por se colocar em posição superior, ele pode subordinar, destruir, manipular, desapropriar. Assim sendo o indígena igual a natureza, o negro de natureza “selvagem” ambos podem ser manipulados ao bel prazer, pois “bárbaros” que precisam ser “civilizados”
A natureza fala conosco, só precisamos aprender a escutar e a entender o que ela quer nos dizer. A urbanização e privatização do mundo abre espaço para destruição da natureza que é a perpetuação do genocídio.
Sobram as rugosidades, termo muito usado pelo Geografo Milton Santos, o antigo e novo se misturam na paisagem e contam suas histórias.
A destruição do planeta nos tira do sério e não nos deixa respirar. Tudo parte de um projeto político que nos transforma em consumidores e não em cidadãos.
Hoje muitos, e eu me incluo, andamos feitos zumbis esperando o fim do mundo pois pelo que parece não sabemos mais quantas gerações o mundo vai aguentar. O que será que vai sobrar para meus sobrinhos netos?
O processo civilizatório foi destruidor introduziu forçosamente a Bíblia, a escola a estrada, a mineradora...
O autor me fez refletir sobre minha subjetividade pois não somos todos iguais. Ele fala também sobre as formas de resistência. Vamos viver o que somos de subjetivo, vamos nos atrair pelas nossas diferenças. E vamos resistir todos juntos.
Estamos vivendo uma política de estado que planeja devastar, ainda mais, as terras que na verdade são familiares dos povos indígenas, em nome de ambição. Pois não há necessidade de lucrar mais, a riqueza (valores materiais) que existem no mundo já seriam suficientes. Mas a subjetividade do acumulador não pensa dessa forma.
A destruição do Rio doce me tirou o sono, ainda estou inconsolada. Neste livro aprendo que ele é o avo do povo Krenak, seu nome é Watu. Não deveria ser um “recurso” não deveria ser apropriado. Para o povo Krenak ele ainda esta vivo. O brasileiro médio tem a mentalidade de que o índio deveria participar da exaustão da natureza. O Jose Magalhaes filho, um homem branco evangélico, assumiu um cargo na FUNAI e deu uma declaração que esta nos planejamentos dele que o indígena frequente a escola urbana, o estimulo a miscigenação que para ele é “integração”, revitalização da área indígena construindo uma fabrica de doce e transformar os povos originários em trabalhadores de fábrica. O mesmo fala isso em rede publica de televisão e não sofre nenhuma penalização. A fala é aceita por muitos da população que acreditam que o mundo não passa de uma mercadoria.
Temos que moldar o nosso olhar para o mundo e coletar ideias para adiar seu fim. Os povos originários escolheram resistir e refletir.
Eu estou com ele, e você, quais as suas ideias para adiar o fim do mundo?