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16 janeiro 2021

O olho mais azul


              Escrito em 1970, O olho mais azul foi o primeiro livro de Toni Morrison.

Abordando temas como raça, racismo, sexismo, menina preta, abuso infantil, colorismo, abandono materno e paterno, auto ódio, a vida sócio econômica da comunidade negra estadunidense entre outros.

Toni tem uma escrita diferenciada, alguns chamam de difícil. A forma como descreve os personagens e a trama não permite que sejamos meros espectadores e sim parte do livro. Sendo um negro em diáspora ou um não negro com empatia.


O romance é narrado por Claudia uma menina negra que vive com seus pais e sua irmã. Após um acontecimento drástico, a família acolhe Pecola. E através dessa personagem a autora anuncia diversas barbaridades que uma menina negra pode ser submetida. 

Esse livro foi colocado no limbo literário. Criticado e rejeitado, levou 25 anos para ter uma publicação respeitosa. O mercado editorial, o jornalismo e a academia não se interessavam nesse tipo de debate. Mas alguém tinha que descrever mesmo que por ficção essa realidade. 


A História se passa em uma família negra com condições financeiras bem limitada. Composta por Claudia, sua irmã Frieda, sua mãe e seu pai. Moravam em uma casa velha, fria e verde. A autora destaca a importância de família negras terem uma casa nos Estados Unidos.  Como sabemos, é uma terra que foi colonizada, os indígenas genocidados e os negros africanos traficados e escravizados. Com esse background, para uma família negra, ter uma casa era o ápice da humanização. Um dos personagens incendeia a própria casa, deixa todos atônitos. O grande terror para um negro era viver na rua e qualquer deslize isso poderia acontecer, comer demais, usar carvão demais, jogo, bebida... Se uma mãe botasse um filho pra fora de casa, a solidariedade ia para o que estaria na rua, independente do que tenha feito. Ser posto pra fora de casa (onde possa se abrigar em outro lar) é diferente de ser posto pra rua. Estar na rua era o fim. Sabendo o significado disso, a comunidade negra tinha uma fome por propriedade e dedicavam toda energia, todo amor a seus ninhos.  


Foto da Internet


Os afrodiaspóricos brasileiros sabem bem o que é não ter um lar. Ações do Estado foram fundamentais para que a comunidade negra brasileira no pós abolição não tivesse mobilidade social e econômica. Mesmo liberto, era submetido a condições similares de quando eram escravizados. O tráfico de escravo foi proibido internacionalmente em 1831. O Brasil aprova em 04 de setembro de 1850 a Lei Eusébio de Queirós que proíbe o tráfico no país. Dias depois, em 11 de setembro de 1850 aprova a lei de terras onde segundo Art. 1º Ficam proibidas as aquisições de terras devolutas por outro título que não seja o de compra. Com isso caso houvesse abolição da escravidão o negro só poderia comprar terras se o Estado permitisse. Os ataques bélicos aos Quilombos, destruição dos cortiços, desmonte de favelas sempre esteve na historicidade dos negros brasileiros. O atual governo federal encerrou em definitivo o programa Minha Casa Minha Vida, que por mais que o programa necessitasse de ajustes, era uma das formas que muitas famílias negras brasileiras conseguiam comprar seus lares. 


Foto da Internet


Depois de uma tragédia, Pecola foi morar com a família de Claudia. Como na casa havia um quarto extra, este foi alugado para um inquilino muito solicito, simpático e brincalhão com as meninas, mas na primeira oportunidade tocou no corpo de uma delas, assim o pai  expulsa o violador em defesa da filha

        As três meninas convivem como se fossem irmãs. Frieda e Pecola amavam a atriz Shirley Temples, mas Claudia detestava e falava que gostava mais da Jane Withers. Na verdade, o ódio de Claudia era de saber que nunca seria tratada como uma menina branca, por ser uma menina negra, não seria lida socialmente como encantadora. E se queixava que Bill "Bojangles" Robinson deveria dançar com ela e não com Shirley.


Foto da Internet

No Natal o presente mais desejado eram as bonecas Baby Doll com  seus olhos azuis e  cabelos amarelo. Claudia não gostava e chegou a destruir algumas. Desejava a devoção que a boneca recebia, ser chamada de "linda" e outras meiguices. Durante a história as meninas foram na casa onde a mãe de Pecola trabalhava como doméstica, lá Pecola derruba sem querer uma torta e sua mãe a joga no chão, uma criança branca, moradora da casa, aparece na cozinha, a mãe de Pecola a trata com toda ternura possível e promete fazer outra torta. 


O abandono afetivo é uma realidade na comunidade negra fruto do processo racial que são submetidos. As meninas quando conversavam sobre o amor, destacavam que desejariam ser amadas antes do marido a abandoná-las quando elas tivessem adulta.


Na história de Pauline, mãe da Pecola, seus irmãos tiveram a infância interrompida aos 10 anos de idade para trabalhar e já seriam endurecidos pela vida com tão pouca idade. Pauline tinha uma deficiência nos pés e mesmo adolescente já era responsável pela casa e pelos dois irmãos menores enquanto toda família trabalhava. Cholly, o pai de Pecola foi jogado no lixo por sua mãe que havia sido abandonada pelo companheiro assim que anunciou a gravidez. Uma tia que nunca se casou, resgatou Cholly e o criou. Veio a falecer quando ele ainda era adolescente. Cholly se encontrou com uma menina chamada Darlene em um local escuro e quando estavam sem roupa homens brancos o flagraram e humilharam. Exigiram que “terminassem” o que estavam fazendo e por esse episódio, o ódio foi direcionado a menina e não aos racistas. Imaginando que ela poderia ter engravidado, ele fugiu para outra cidade em busca do pai, chegando lá se da conta que nem lembrava o nome da mãe. Andando desnorteado, encontra duas mulheres negras que o acode e resgatam, ele se reconecta com sua masculinidade, se torna um trabalhador e casa com Pauline que passa a ser chamada de Sra. Breedlove. Com a recessão e pouco emprego passa a beber muito. Sra. Breedlove, trabalha como doméstica e a independência financeira da mulher passa a ser um problema e ocorre muitas brigas. A patroa branca, demite Breedlove e não lhe paga o que a deve e coloca como condição para ser readmitida no trabalho “abandonar o marido”, nesse momento Breedlove reflete que a mulher branca a manda escolher entre ser sua serviçal ou ter uma família. 

 

A experiência de Sra. Breedlove na maternidade foi traumatizante, contudo, reflete a realidade das mulheres negras. Havia um grupo de estudante com o preceptor e ao chegarem próximo a Pauline, dispara que “esse tipo de mulher” tem filho sem dor como as éguas, mas ela sentia tanta dor quanto as brancas e não era um animal.


 Pecola era considerada uma menina muito feia. Na escola era ignorada e desprezada por alunos e professores. Os meninos para implicar um com os outros, era suficiente dizer que Pecola gostava de alguns deles. (me conte quem já passou por essa experiência). O auto ódio era alimentado diariamente e foi assim que ela desejou ter olhos azuis. Na verdade, ela desejava amor e paz. Dos adultos recebia olhares de interesse, nojo e raiva. A aversão a sua negritude era explícita e ela era tomada por uma inexplicável onda de vergonha por ser ela mesma. 

 

No inverno a escola recebeu uma nova aluna Maureen Peal, descrita como uma mulata claríssima de cabelos compridos. Foi comparada as meninas brancas pois, era envolta de conforto e cuidados. Os professores sorriam e a encorajavam, os meninos negros não a agrediam nos corredores como faziam regularmente com as meninas negras, as meninas brancas não faziam muxoxo quando estavam no mesmo grupo de trabalho, as meninas negras moviam-se para o lado quando ela queria usar a pia do banheiro. 


Sendo negra não tinha privilégios, mas a pela clara lhe concedia vantagens e passibilidade que Pecola, Claudia e Frieda nunca experimentariam. Na saída da escola Pecola era chamada de “Preta retinta, preta retinta...” como xingamento e a cercavam para lhe bater.  Após uma rápida tentativa de amizade com Maureen, no primeiro desentendimento, essa dispara: “eu sou bonita e vocês são feias, são pretas feias” era a hierarquia da cor de pele. 


Um capítulo do livro é dedicado a explicar um pouco como mulheres negras de pele clara são lidas dentro da comunidade negra afro americana. Cantoras de coral, mas não são solistas, vivem em bairros negros mais tranquilos, cursam escola normal, trabalhadoras, não namoram, mas sempre se casam. São observadas pelos homens que vislumbram um lar cristão com lençóis limpos, flores de papel decorando a casa e a roupa do trabalho engomada, são as escolhidas.


        Nas relações infantis a preferência era brincar com meninos brancos ou os mulatos que eram considerados limpos e silenciosos. Os pretos eram rejeitados para as brincadeiras e taxados de sujos e barulhentos. A linha entre o mulato e o preto oscilava, era preciso estar sempre atento.

As mulheres brancas diziam “Faça isso”. As crianças brancas diziam “Me de aquilo”. Os homens brancos diziam “Venham cá” Os homens negros diziam “Deita”. Meninas e mulheres negras eram colocadas nesses lugares.  


As irmãs descobriram que Pecola havia sido estuprada pelo pai e que havia engravidado. Pescando comentários pelo ar, ouviam que ela deveria ser tirada da escola, que ela era um pouco culpada (tinha só doze anos), que talvez o bebê não sobrevivesse porque a mãe a havia espancado. Nesses diálogos Claudia e Frieda tentavam encontrar alguma manifestação de solidariedade e afetos que eram destinadas as bonecas Baby Dolls, a Shirley Temples ou Maureen. 


Pecola perdeu o bebê e a sanidade mental. As duas meninas se culpavam por não terem conseguido ajudar a amiga.


É uma leitura pesada, de doer o coração, mas alguém tinha que falar sobre isso e Tony Morrison como mulher negra não se calou.


Toni Morrison

10 janeiro 2021

A mulher dos pés descalços

      


Livro escrito para Stefania, a mãe de Scholastique Mukasonga. Uma mãe que tinha uma ambição: ter seus filhos vivos. Scholastique Mukasonga é uma escritora Tutsi  sobrevivente do massacre de Ruanda o qual exterminou a sua família em 1994.

Ruanda é um país que fica no centro da África. Ficou conhecido devido ao genocídio. Composto por três etnias principais Twa,  Hutus e Tutsis. Os Hutus eram maior número e eram agricultores e os Tutsis eram ligados a agropecuária e com isso maior poder econômico. Colonizada inicialmente pela Alemanha, o controle passa os Belgas. Os Belgas incentivaram rivalidades entre as duas etnias usando o argumento da hierarquia de raça. Alegavam que os Tutsis eram superiores porque tinham traços mais próximos do Europeu. A largura do nariz era um dos elementos usados para justificar a superioridade dada aos Tutsis, pois era de uma estrutura mais fina. Os Belgas ofereceram escolarização aos Tutsis  através das missões católicas e chegaram a escravizar os Hutus. Algo que não existia foi implementado: a obrigatoriedade nomenclatura da etnia nos documentos oficiais. 


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Rivalidades políticas e econômicas entre as etnias foram alimentadas. Após queda de um avião em 1994, onde estava o presidente que iria assinar um tratado de paz, foi o estopim para o massacre. Há quem diga que o massacre ja estava planejado antes do acidente. Milícias foram formadas, vizinho matava vizinho e os militares tentavam exterminar os Tutsis. Norte Americanos, Franceses e Belgas, cúmplices reais do massacre deram as costas para a situação. 


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A autora escreveu uma trilogia sobre o genocídio e esse livro  é o que resgata a memória de seus ancestrais, os costumes e as tradições do seu povo. 

    Expulsos de suas terras, sua mãe Stefania, as três filhas mulheres, os dois filhos homens e o marido foram viver em uma área de refugiados e tiveram que adaptar as suas tradições.  Stefania tinha certeza da morte precoce e sua vida mudou completamente. Passou seus últimos meses de vida criando estratégias para manter os filhos vivos.  Para si mesma só tinha um desejo:  que seu corpo fosse coberto por um pano em caso de sua morte.  

        A autora é a única sobrevivente da família pois não estava lá no dia do massacre e não pode cobrir o corpo de sua mãe com pano e decidiu cobrir o corpo com palavras. Em memória da sua mãe livro foi escrito.

Stefania temia o adiantar da morte de seus filhos pela violência a qual a sua comunidade estava sendo submetida sistematicamente. Sem a presentesão de fazer falsa simetria, a cada 23 minutos morre um jovem negro no Brasil, as nossas mães pretas também vivem a angústia de uma possível morte precoce dos filhos . 

A estratégia colonial para adiantar a morte foi parecida da que foi usada com os negros no Brasil. Ao fim da escravidão negra brasileira, impediram que os ex escravizados/libertos e seus descendentes tivesse acesso a terra, educação, trabalho livre remunerado ou qualquer assistência/reparação/indenização. Esperava-se que os negros morressem de alcoolismo e fome. Em Ruanda a etnia Hutus removeu os Tutsis para uma área remota para que fossem dizimados por doenças como a do sono, para que morressem de fome, além das repressões militares que resultavam em mortes violentas.  E como no Brasil, apesar dos pesares, os tutsis sobreviveram. O que os colonizadores subestimam é que o processo civilizatório africano é pautado na solidariedade e comunidade. 

Os militares lembravam aos Tutsis que eles não eram mais humanos, e foram apelidados de "barata". Suas vidas eram descartáveis. Invadiam as casas, saqueavam, aterrorizavam os moradores, quebravam objetos. Uma das lembranças relatadas pela autora, foi um dia em que a família havia terminado o jantar e estavam sentados em suas esteiras ouvindo um irmão ler um livro e pai rezar o rosário. De forma inesperada três soldados entram na casa, pisaram na comida, bateram em alguns membros da família, destroíram a mobília e em sequência foram para as casas vizinhas fazer o mesmo. Me faz lembrar dos relatos dos moradores de favela do Rio de Janeiro e as operações policiais. Com o álibi de que estão procurando drogas, invadem as casas, quebram o podem, agridem quem estiver à vista e matam a esmo.

O projeto de vida de Stefania era salvar seus filhos. Cavava os buracos nas tocas de tamanduá para que as filhas menores se escondessem, ensaiava as rotas de fuga, estocava a tão escassa comida. Sempre aperfeiçoava os planos de sobrevivência.  O exílio para outro país, ela e o marido não cogitavam, era como se eles tivessem decididos morrer em Ruanda.

O alimento não era só pra nutrir o corpo, era um gesto de amor das mães. Ter filhos era motivo de muito orgulho e realização se transformou em temor. Havia uma vizinha mãe de 7 filhos, que deveria ser a mulher mais realizada do mundo. Mas seus meninos poderiam ser mortos ou convocados para a milícia a qualquer momento e essa mãe estava mergulhada em tristeza profunda. As mães de meninas viviam sob o pesadelo do risco do estupro coletivo o que é uma pratica em situações de guerra. 


Soldados alemães estupraram belgas ao invadir a Bélgica durante a Primeira Guerra Mundial; turcos estupraram armênias durante o genocídio na Armênia em 1915; japoneses assediaram chinesas durante o “Estupro de Nanking” em 1937-1938, violando indiscriminadamente mulheres e crianças e profanando os seus corpos com baionetas e outros objetos; russos celebraram a derrocada da Alemanha nazista em 1944-1945 com estupros em massa contra milhares de mulheres (alemãs, polonesas, russas, judias); norte-americanos estupraram vietnamitas durante a Guerra do Vietnã nos anos 1960; hutus estupraram mulheres tutsis no decorrer do genocídio de Ruanda, nos anos 1990; muçulmanas foram continuamente violadas em campos especificamente montados para tal propósito (rape camps) na Iugoslávia, também nos anos 1990 (Samanta Moura, 2015) 


O livro fala sobre como branco interferiam na cultua Ruandense com as missões católicas. A busca da “civilização” através da igreja. Todos tinham que ser batizados,  trocar de nome, não podiam trabalhar aos domingos, roupa, penteados tudo recebia a tentativa de  "embranquecer". Os costumes e tradições que ocorriam dentro e casa foram as que sofreram menos influência, assim como moradores de área remota onde os Missionários não tinham construídos uma base.   

O cultivo da terra era uma tarefa árdua, mas com vários propósitos. Eram de onde tiravam alimentos, eram onde plantavam ervas medicinais, era o momento em que as mães passavam para os filhos os segredos das tradições. Cultivavam plantas para atrair prosperidade. A autora  relata que se surpreendeu ao descobrir que batata-doce, o milho e o feijão eram oriundos das Américas. 

Na literatura descrevem as mulheres Tutsi como dona de casa que faziam cestinhos para turistas e manteiga. 


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Contudo a autora se recorda das mães sempre com uma enxada na mão e os filhos nas costas. Trabalhos de campos intermináveis. 

O sorgo tem o seu destaque. Cultivado em uma área exclusiva, é o alimento legítimo ruandês. O rei das plantações. Com ritual próprio e grandes festejos na coleta, o grande  talismã contra fome, contra calamidades e sinal de fertilidade e abundância.  Mukasonga aprendeu o cultivo com a mãe. 


Sorgo


Umuganura é o nome da festa pós coleta e da massa do sorgo. Por ser uma festa familiar onde nem os vizinhos participavam, muito foi preservado da influência dos missionários que não tentaram cristianizá-la. Crianças tinham a honra de colher as espigas, mas não podiam ser filhos bastardos, doentes, franzinos ou com problemas físicos. Não podiam usar panelas de metal, mas sim potes de cerâmica. Evitavam utensílios introduzidos pelos brancos. Todos da família deveriam comer, cantar e dançar em honra do sorgo.

            Mulheres, homens e crianças, todos tinham funções específicas. tudo era feito em  e para a comunidade. De tudo que se produzia com o sorgo, a cerveja era o mais esperado. Hoje substituída pelas marcas Primus e Amstel, a cerveja de sorgo é descrita como bebida de velho. Mas em torno  jarros de cerveja de sorgo, laços de familiares se fortaleciam, conflitos eram resolvidos, casamentos negociados, vizinhos confraternizavam.

            Com tratamento médico limitado e precário, crianças e idosos acabavam morrendo de diarréia. O tratamento com os saberes tradicionais ajudava. Stefania não era uma curandeira clássica, mas como uma boa mãe, tinha suas  recitas. Conseguiu plantar alguma coisa em casa, mas nada comparável ao que era antes da deportação.  O alimento de riqueza suprema que sentiam falta era o leite. Tomaram suas terras, assassinaram o gado e os veados, queimaram os estábulos. 

            Ao nascer as crianças passavam por um ritual e então eram reconhecidas e acolhidas como irmão da comunidade e deveria ser protegido por todos.  No final do ritual, as crianças maiores se sentavam no chão e estendiam o braço para receber o bebê em seu colo que   era passado de mão e mão. Dessa forma ele era adotado por todo o vilarejo. A autora não recebia bebês em seus braços pois segundo sua mãe era estabanada. 

Na missa era ensinados que Deus proibia trabalhar aos domingos e se não obedecessem, ele surgiria por cima de nuvens negras, ardendo de cólera e rodeado de línguas de fogo. Então Domingo de manhã iam pra igreja e as tardes cuidavam da beleza. Catar piolho era um ritual feito nos quintais das casas, encontros  apenas com as mulheres. Na maioria das vezes não tinha piolho, mas era o momento em que os dedos maternais percorriam as cabeleiras com afago. O racismo se articulou para  transformar esse momento em dor, afirmando que o cabelo crespo era ruim. Pentear os cabelos foi transformado em uma batalha para se adequar a aceitação social. No livro é explicado o amor que é transmitido de mãe para filha no momento dos cuidados dos cabelos.


Foto da Internet


Amasunzus eram penteados geométricos que significava que a moca estava na idade de casar e buscava um marido. O cristianismo condenava a tradição e proibia o uso de penteado que poderia atrair os meninos. O urugori, um arco que perdia o cabelo das mulheres, era um símbolo de fecundidade, benção para as crianças e para a família. O alisamento do cabelo com ferro quente então se torna padrão, mas o equipamento ne todas tinham e chegavam a passar ferro de roupa no cabelo para se encaixar no padrão. 



Foto da internet: Urugori

    


Foto da internet: Amasunzus


O estupro coletivo foi uma tecnologia de opressão e era assunto proíbo. As mulheres mudaram a tradição e passaram a acolher a vítima da violência e seus filhos. Não sabiam que status dar a essas mulheres pois não eram mocinhas e nem casadas então as vítimas recebiam o status de viúvas. 

Ruanda é o país de Mães-coragem.

        As mães de Ruanda são boas, amorosas, alimentam, protegem, aconselham, consolam. São guardiãs da vida.

Scholastique Mikasonga