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23 janeiro 2020

Pequeno Manual Antirracista

Em seu novo livro Pequeno Manual antirracista a escritora Djamila Ribeiro fala de uma forma muito direta e de fácil entendimento sobre como ser antirracista. De capítulo a capítulo usando sua trajetória enquanto mulher negra e os atravessamentos raciais que lhe foram impostos a mesma exemplifica e discorre sobre questões raciais. 

Primeiro ponto pra quem quer ser antirracista é: Vá estudar! Sou chamada de arrogante quando falo isso. Inacreditavelmente existe uma corrente de pessoas que pregam a não educação, esses acham que educação vem exclusivamente das cadeiras das universidades e que lá não é lugar para negros. Vá estudar é ouvir os mais velhos, é assistir a um vídeo do professor Joel Rufino no Youtube, ouvir uma pessoa falando de uma situação de racismo e não silencia-la, é aprender com a situação, é ouvir música e questionar, uso como exemplo a tão popular na voz do tão querido Zeca Pagodinho, parte da música Faixa Amarela: “...Mas se ela vacilar, vou dar um castigo nela. Vou lhe dar uma banda de frenteQuebrar cinco dentes e quatro costelas. Vou pegar a tal faixa amarela. Gravada com o nome dela. E mandar incendiar. Na entrada da favela...”. A música fala: eu vou presentear e vou ama-la, mas se ela não atender as minhas expectativas eu bato nela, quebro seu corpo e boto fogo no presente. Mulheres negras passam por isso o tempo todo e você que quer ser antirracista não pode achar enraçado ou normal.

Então gente: Vá estudar, leia, escute, observe, sinta o cheiro...largue “eu acho” e analise a situação, contextualize tudo. Esse papo que só é racismo se chamar de macaco não está colando mais e tenha sempre em mente, na dúvida: É RACISMO.

Admita o privilégio branco, admita as vantagens da pele clara parem de tentar não debater algumas pautas porque esse silenciamento só serve pra manter o oprimido em seu “devido lugar” enquanto a roda continua girando. Se desconstrua, mude. Por muitos anos eu fui a “palhaça da turma” eu fazia piada com meu cabelo, com meus lábios, com o tamanho da minha bunda, eu pensava que se eu risse disso ia doer menos na hora que fosse atacada racialmente pelos meus traços negroides irrefutáveis. Hoje eu não admito isso em hipótese alguma e me fere quando vejo um homem negro presentear sua companheira branca e assinando sua carta de amor e devoção com: “seu macaco”. E ao ler um pouco mais sobre essa relação, chamar de macaco do cabelo duro é a forma que a mulher branca diz ser carinho de casal, mas quem já “estudou” sobre a negação da humanidade ao corpo negro e a colonização da estética de nossos corpos consegue perceber que ai não há nada de carinho, há uma hierarquização, o humano e o não humano, o padrão e o não padrão. E advinha quem vai estar estruturalmente na posição inferior?

Essa semana tivemos também um ator branco ex morador de favela que se sente dolorido no âmago do seu ser com ações afirmativas como cotas raciais. O clássico branco pobre. Quem aí não teve um branco pobre que desdenhou quando você passou no ENEM, comprou um carro, quitou as prestações do celular... Se você quer ser antirracisa, apoie as políticas educacionais afirmativas.

Não romantizem o preto único, tomem vergonha ao falar de meritocracia em um país que tem a desigualdade social como base estrutural do estado. Falta de acesso a educação, saneamento básico, água potável pra beber, não ter onde dormir, falta de assistência de saúde... esses não devem ser o ponto de partida de NINGUÉM. Parem de dizer que é lindo uma criança negra vendendo bala nas ruas enquanto seu filho faz inglês e natação. Essa criança não é “esforçada” ela é fruto de um sistema e se você não se incomoda com isso você é racista. 

Leia autores negros, já tem várias listas rolando pela internet. Combatam a violência racial. 

Há um vídeo no twitter do influencer Mussum Alive onde uma senhora negra é acusada de roubo por um homem branco dentro de um onibus. A polícia para o ônibus, aceita a palavra do branco que a senhora é a ladra. A polícia revista a bolsa da senhora, autoriza ao racista a olhar dentro da bolsa, apenas a menina que estava filmando dava apoio a vítima de racismo. Mulheres brancas se dirigiram a vítima de racismo pra perguntar se não foi ela mesma quem roubou, um homem branco grita “está com dó? Leva pra casa”, um show de humilhação. Então eis que uma senhora de idade vai até o policial e diz que tem uma passageira que está agitada e move alguma coisa entre os bolsos de sua roupa, o policial pega essa passageira que é branca, loira e coloca na frente da senhora negra para confirmar se na eram cúmplices. A branca ainda achou que não seria pega disse que nunca havia visto essa senhora negra na vida e que estava atrasada para o trabalho, tudo isso bem tranquila, mascando chiclete. No momento da revista da BRANCA o policial pede a uma mulher para revistar, direito esse que foi negado a mulher negra. Ao constatar que a mulher BRANCA era a ladra, umas duas pessoas pediram desculpas a vítima de racismo. Mas havia um ônibus lotado e nenhum antirracista deu apoio a mulher negra, salvo a menina que milagrosamente conseguiu filmar tudo. Antirracismo tem que ser rotina do nosso cotidiano.


Cuidado com a cultura negra tenha respeito, tenha zelo.  Nós não somos alegoria, entretenimento e acessório. 
Branca pode usar trança? Sim. Fica feio? SIMMMM rsrsrsrsrsrss.

Enfim, leiam, presenteiem, marquem o Youtuber que gosta de comprar livro e distribuir pra poder afrontar. Comecem a transformar suas vidas.

Um comentário:

  1. Incrível seu texto! Djamila, desbravando e democratizando o mercado editorial, nos permitiu não sermos mais silenciadas e estimulou nossos relatos de experiência, nossas produções textuais e acadêmicas, tanto para as nossas mais velhas, que hoje recebem o merecido reconhecimento de décadas de trajetória, que pavimentaram nossos passos até aqui, quanto nossas mais novas, que já iniciam suas contribuições desfrutando de um cenário de intensas produções. Obrigada por enriquecer nossa caminhada!

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