1. 3. 4. 5. 10. 14. 19. 24. 29. 30. 31.

29 novembro 2019

Meus Cabelos Baobá

Nossa experiência dolorosa começa ainda na infância, relacionada a nossa estética. A “coleguinha” é quem diz: você é diferente, você é estranha. 
Até então, nosso cabelo, tipo de algodão, cuidado com tanto carinho e zelo pelas nossas mães e avós com seus óleos de côco, sumo da babosa, as tranças com fitas. Momento de afago e cumplicidade. Sentar-se entre as pernas e sentir o toque e o manejo das mãos talentosas das que queriam nos ver belas. 

Aí chega o momento: é curto demais, duro demais, feio demais, você lava? Isso não dói? ... então vem as toalhas para balançar, química, ferro quente... O nó fica preso na garganta por décadas. 


Vamos crescendo com a adolescência e vida adulta e atropeladas pelo racismo. Seguimos resistindo.
Para nos ajudar a descolonizar e fortalecer temos livros, grupos de mulheres, vídeos e o TEATRO.
Teatro e a arte que mais me emociona. É ali na voz, no gesto, no movimento do corpo que a mensagem chega. 



Fernanda Dias em seu texto me tocou profundamente. Com sua fala forte e marcante e de brinde ricas poesias de Conceição Evaristo. 

O espetáculo nos faz rir, se emocionar e refletir. Saímos de fortes como um baobá. Que essa força chegue a mulheres negras e brancas, homens negros e brancos. 
Assistam, se transformem, a hora e essa.
Acreditem: Não e só cabelo.

Matriarcas do Samba.

Matriarcas do Samba é um projeto musical, cultural e de vida. Criado pela belíssima Cida Santana
Intercalando poesia e música, tem um repertório que faz uma trajetória da narrativa da mulher no samba. 


Em uma linha do tempo bem contextualizada que vai desde nossa saudosa Quelé cantando suas dores enquanto filha de escravizados, trabalhadora braçal.
🎶🎵Lá vem lá vem marinheiro só... 🎶
🎵
Passamos pelo jongo e sua resistência ✊🏿, seguimos caminhando e nos aventuramos no amor. 

Leci Brandão e a Maria de um João só. João não quis reconhecer seu valor então Maria aprende que na vida só ganha quem sabe jogar em qualquer posição. 

Jovelina, partideira, guerreira, lutou e provou o seu potencial. Desafiava a todos com sua beleza ímpar, gingado, musicalidade, voz impecável, e marcante e inconfundível.


Damos um salto para a alegria, a estética, pois somos todas coisinhas tão bonitinhas do pai.

A mulher negra é transcendental em todo espaço que ela ocupa. Quem pensa que as baianas, as quituteiras, as passistas eram apenas “enfeites” no samba se enganaram. 

Está aí pra quem quiser ver, em um espaço majoritariamente masculino encontramos formas de falar o que estava em nossas mentes e em nossos corações.
Parabéns Cida Santana. Estou ansiosa pelo próximo Matriarcas do Samba.

Lançamento do Livro: Pequeno Manual Antiracista

Em um prêmio como o Multishow, um local fechado, filmado, fotografado um Racista se sente confortável em chamar Ludimilla de MACACA, ninguém pega essa pessoa pelo braço e entrega as autoridades mesmo sabendo que ela cometeu um crime.
Uma pessoa da produção de um reality show diz “senta logo macaca” a uma mulher negra que estava na companhia de um grupo de pessoas, o que eles fazem? Eles se quer descruzam seus braços, eles não mudam suas feições, houve um que ainda estimulasse a vítima a repetir a ofensa Racista mas no geral todos ouviram mas todos temiam assumir que ouviram para não perder a empatia dos racistas, acredito eu.
Um vídeo antigo sobre o racismo usou crianças negras para proferir ofensas racistas a pessoas negras para “ensinar” pessoas brancas sobre racismo.
Uma senhora se sentiu plena e confortável em jogar uma banana no palco, direcionada a um ator negro. O mesmo para não criar “climão” comeu a banana.
Tenho certeza que o livro da Djamila Ribeiro vai me ajudar a alinhar meus pensamentos em relação a luta antirracista. 
Racismo é coisa de preto? É problema de preto? 
Você BRANCO que se diz aliado? Até aonde vai essa aliança? Espero que ela não se encerre no negão que vc não “guenta” vê, na apetitosa bunda da nega, nas rodas das saias dos jongos ou nos paranauês das capoeiras. 
Ansiosa pelo livro para ampliar meus pensamentos.

Bob Rum “A história de um Silva”

Que eu sou fã de Marcelo Gularte todo mundo sabe. Dos inúmeros talentos do moço anseio testemunhar seus solos de flauta. 
Marcelo mais uma vez surpreende na direção do filme Bob Rum “A história de um Silva” que conta a linda trajetória do Bob Rum, um jovem branco, pobre, morador de Santa Cruz com uma família, pai, mãe e irmã que o cercava de amor e proteção dentro de sua simplicidade transformou a história musical do Rio de Janeiro

Quando muito jovem teve contato com a música, cruzou diferentes desdobramentos de até chegar no Funk. Uma história feliz e emocionante. Bob está aí pra contar sua história através da música e também pela sua autobiografia. Ele simplesmente é o compositor e cantor do hino atemporal do funk Era só mais um Silva. O hino dispensa apresentações. Só de ouvir a melodia a musica já nos transcende a um lugar de empatia ao trabalhador periférico que curte o funk.


Filhos e esposa orgulhosos de sua trajetória, porém relataram que sofrem preconceito ao falar que o pai/marido é funkeiro. Mas é assim que o racismo opera, não ao Bob mas ao movimento.

O funk assim como o samba, o candomblé, a capoeira e outras manifestações de PODER da população negra causa medo. Um movimento popular e de fácil alcance, construído e fundamentado pelo povo preto e que te eleva física espiritualmente tornando a comunidade mais forte, espiritualizada e com auto estima, da medo. O racismo é um sistema estrutural de dominação e eles (os racistas) a todo tempo tentam minar esse poder. Renan da Penha por exemplo, músico, líder popular, criador do ritmo 150 bpm que repaginou o funk, a forma de dançar funk, tem o encarceramento na sua trajetória como uma forma de intimidação e apagamento.


Durante o filme do Marcelo, ouvir o nome dos bailes funks da década de 90 faz a emoção subir, imagens do povo preto unidos em “mulão” extravasando toda sua energia. Os MCs das antigas. Quem não lembra do programa som na caixa? 
O meu ponto nostálgico mais forte foi a dança da bundinha. Eu e minha prima Claudia Marquesa somos as campeãs imbatíveis da dança da bundinha nas festas de família, as oconcur no estilo. 
Marcelo muito obrigada por esse seu trabalho que conserva a nossa memória. 
Meninas do meu tempo, o Bob Rum continua um pão 🥖 😍👀🥰

Roseane Correa


     

Duo de Pretas. Guerreiras!


Um conselho, quando souberem que 3 mulheres negras se reuniam para construir algo, liguem o alerta e preparem o coração. 
Duo de pretas – Guerreiras!

Com Sulamita de Oliveira uma esplendorosa pianista Concertista que começou seus estudos na música aos 5 anos de idade, Mestra em Música pela UFRJ, pesquisadora e professora de piano e linda pra caramba. Ana Lia Alves cantora lírica estuda a presença Africana em música de concertos e Soraia Arnoni atriz, formada pela Escola de Teatro Martins Penna e licenciada em teatro pela UNIRIO.
Mulheres negras ocupando espaço na música erudita. Podemos tudo 


❤️
Um percurso musical que se inicia com a música Essa Negra fulô que fala de uma mulher negra subalternizada, acusada de roubo, apanha e é sexualizada. Na sequência Somos contemplados com uma performance da música Maria Macambira que se encantou a lavar as roupas de Yemanjá e segue com outros cantos.


A violência a mulher é denunciada por relatos em vídeos. A poesia nos atravessa entre as apresentações musicais, o canto lírico comove e o piano faz suspirar. 


O espetáculo não fala só de dor. Mulheres negras Guerreiras são homenageadas, Marielle Franco, Maria Carolina de Jesus, Lapinha... 

O amor é colocado em pauta, mas não qualquer amor, aquele amor que atura tudo. Não! O espetáculo fala do amor romântico, o amor carinhoso, o amor com afeto. Somos fortes mas não somos exclusivamente uma armadura, estamos aptas para toque e ao afago. 

Um espetáculo que emociona e motiva. Deixa a mensagem de que se tiver alguma mulher passando por abuso; DENUNCIE! E se por acaso quem tiver passando por abusos for você: Não se cale.
Último spoiler: o solo no Piano de Feeling Good de Nina Simone é de fazer o coração sair pela boca.
O espetáculo volta no ano que vem. Fiquem atentos.

Roseane Corrêa