Na minha pele é um livro que não tem a pretensão de ser uma biografia, mas um livro para falar de experiências de vida, segundo o autor.
Lazaro Ramos é um jovem ator negro de muito sucesso. Rompeu barreiras inimagináveis para um corpo negro masculino e nordestino pois essa tríade é muito determinante, para ela o seu lugar no mundo já e marcado. Mas Lázaro rompeu as fronteiras fantasmagóricas forjadas pelo racismo e está traçando suas trajetórias de sucesso.
Acredito que por ter nascido e criado em um ambiente de proteção racial pois ele vivia em uma ilha onde havia apenas uma moradora branca, ampliando assim o convívio com seus iguais, Lazaro foi criado como uma criança bonita, elogiada, aprendeu a ver valor e beleza nos seus iguais.
Na experiências de muitos outros e eu me incluo, o mundo é desde muito cedo uma eterna concorrência, vai desde ser chamada de neguinha do morro por usar tranças nos cabelos, nunca ser a auxiliar da professora para apagar o quadro, nunca ser escolhida pra ser anjo, noivinha e outros locais de destaque para as meninas e no caso dos meninos já ser lido como delinquente aos 7 anos de idade e iniciar uma vida de eterno suspeito de qualquer coisa de errado que aconteça em seu entorno.
Lazaro mesmo filho de pais separados tinha uma família muito presente e essa foi sua base. Família acolhedora, amorosa. Dindinha, mulher negra que ao meu ver é uma das presenças mais forte da família batalhou para a vitória de muitos. A relação de Dindinha com Caó me deixou de queixo caído. Dindinha é porreta e seu buraco atrás do fogão não me deixa mentir.
Ao sair desse ambiente de proteção, mesmo sem saber nominar, começou as experiências de sua diferença no mundo, ele tinha um corpo marcado!
De uma forma muito inusitada descobriu o seu talento para as artes, sacrificou o seu tempo livre, o seu dinheiro do almoço e começou a se dedicar de verdade até se profissionalizar. Teve muita gente boa atravessando seu caminho. Oh Sorte! Foram escritores, diretores teatrais, historiadores , mães de santo, atores, abolicionistas... as influencias positivas foram muitas. A maioria dos corpos negros masculinos são forjados pela desigualdade, violência policial, falta de empatia. Há muitos que resistem a tudo isso e cruza a fronteira, mas esse não deveria ser um lugar normalizado. O normal para todos é ter família, segurança, saúde, moradia...
Namorou mulheres brancas, mas preservou os ensinamentos de sua infância e teve habilidade em ver beleza e romance em uma mulher negra. Esse olhar deve ser treinado, a sociedade força a hipersexualização e outros estereótipos no corpo negro feminino. A destruição de nossas famílias fazendo com que rejeitemos os nossos iguais afetivamente é uma ferramenta do racismo que não nos quer nos amando. Nós mulheres negras também somos factíveis ao amor e romance queremos xodó e cafuné e Lazaro mandou FLORES para Thais, um gesto romântico.
A leitura desse livro é uma excelente coleta de teóricos que nos ajudam a entender as questões raciais, procurem saber quem são: Nei Lopes, Cidinha da Silva, Muniz Sodré, Vanda Machado, Florestan Fernandez, Zózimo Bulbul, Giovana Xavier... façam com já foi ensinado, joguem esses nomes no Google.
Falar de questões raciais, sendo uma pessoa publica é um grande desafio.
Vivemos em um país racista e que a pouco tempo estão tendo que lidar com os negros questionando a branquitude. Tem sido bem doído para muitos, mas é necessário.
Racismo não é apenas chamar o outro de macaco, racismo e uma tecnologia de poder onde hierarquiza seres humanos. Corpos com cor de pele diferente tem lugares bem marcados na sociedade. O nosso saudoso e talentoso Antonio Pompeo não resistiu e sucumbiu. Em nome dele não podemos parar de lutar.
Parabenizo Lazaro por não escolher a zona de conforto. Ele botou a cara, cutucou a ferida e está contribuindo de forma bem positiva para o debate racial.
Leitura gostosa e bem educativa. Eu indico.
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