O livro começa com uma frase do Padre Antônio Vieira, seria fofo se no mesmo livro não tivesse a descrição de que o padre atribuía o comércio de escravos a um grande milagre de Nossa Senhora do Rosário porque, segundo ele, eram tirados da barbárie e do paganismo na África.
Escrito por Laurentino Gomes, homem branco, privilegiado, descendente de Italiano que chega ao Brasil para substituir a mão de obra cativa. (termo cativo na mesma régua para imigrante italiano e para negros sequestrados e torturados em África e no Atlântico me causou estranheza). De família também branca da parte do pai onde teve um abolicionista então o autor reivindica lugar de fala para narrar a escravidão negra.
Há uma linha do tempo com fatos marcantes no Brasil e no mundo, exemplos: conversão do rei do Congo ao Cristianismo que foi um crime, chegada de Pedro Alvares Cabral a Bahia, me da arrepios só de pensar na matança indígena, Chegada dos primeiros Jesuítas ao Brasil com suas missões, de apagar a história e religiosidade existente, Londres devastada por um incêndio...
Lula foi na porta dos sem retorno, Lula vestiu-se de rei Africano, o BNDES liberava fartas quantias de dinheiro pra angola, o Brasileiro deixou um vácuo nos negócios que foram ocupados pelos Chineses em Angola, Lula não pagou indenização a embaixada de Gana, 14 anos de governo petista, lava jato e o Michel Temer que fechou a torneira... Eu lendo com a voz de Willian Bonner.
Após a leitura tive a sensação de estar lendo um manual de coach da escravidão pois foi extenso e detalhado a quantidade de datas , números, valores, rotas e sem faltar adjetivos positivos ao sucesso da barbárie. Eu já estava esperando: “a escravidão negra era a satart up da época, enquanto uns dormiam outros acordavam as 5 da manhã com suas Naus e persistiam a cada erro. Era só schedular um brainstorm para estimular o team building na cultura organizacional deles, aproveitando o know-how do CEO, agregar valor ao business plan". “Sucesso” Europeu garantido.
Se detalha mais a revolta liderada por Spartacus do que a Revolta dos Malês. Para uma epistemologia pretensa a ser do Sul, acho complicado.
O Brasil “recebeu” 5 milhões de Africano...
Recebeu = sequestrou, manteve em custódia a base de tortura e obrigou a trabalhar numa dinâmica de castigo físico e psicológico. Estavam fora de seu território, não podiam professar sua fé e falar seus idiomas, privado de família e amigos. Não, não era o Enzo que trancou a faculdade de design na PUC pra curtir seu ano sabático e foi RECEBDO pela sua tia rica que tem uma escola de Yoga na Tailândia
O autor cita outros tipos de escravidão que é bem interessante, mas usa a mesma régua para a escravidão negra realizada pelos Europeus. Cita todo tempo que todas as raças foram escravizadas mas contextualiza fora timing.
Repete, exemplifica, detalha, relembra... do papel do negro na escravidão. Cita os reis, as rotas os valores, nomes... mas não contextualiza de imediato. Jogo estranho.
Boko Haram é citado, células nazistas pelo mundo, grupos de supremacia branca não.
O uso da palavra descobrimento no lugar de invasão.
Boko Haram é citado, células nazistas pelo mundo, grupos de supremacia branca não.
O uso da palavra descobrimento no lugar de invasão.
Em a Crítica da Razão Negra Achile Mbembe fala que dos séculos XV ao XIX homens e mulheres originários de África foram transformados em homem-objeto, homem-mercadoria, homem-moeda. Deixavam de ter nome e língua, aprisionados no calabouço para suprir a ambição do branco Europeu. A servidão foi assim racializada. O negro foi o elemento central na criação da plantation que foi uma das formas mais eficazes de acumulação de riqueza e um local de disciplina onde era autorizado a destruição do corpo negro. O racismo passa ser a tecnologia de opressão. Através da racialização sabe-se quais corpos podem ser hostilizados da forma mais bárbara possível. E foi tudo muito bem pensado, não foram experimentos aleatórios. A França após perder para Prússia em 1870 usou a colonização como a nova era de virilidade, a colônia seria o lugar de exaltação de sua potência e investiu-se pesado em uma pedagogia colonial era ensinado desde a infância que os colonos não eram cruéis e sim protetores pois os negros eram débeis.
Pedro Claver o único santo católico fruto da escravidão passou 40 anos aguardando a chegada dos navios negreiros para descer aos porões para cuidar dos sequestrados. Michel Foucault em Microfísica do poder fala que cuidar de doente não tinha muito haver com doente, as pessoas os faziam para buscar redenção. O padre devia cuidar dos necessitados recém escravizados e depois comer comida feita por escravizados, dormir no quentinho com lareira cheio de lenhas cortados por escravizados, tomar banho com água carregada pelos escravizados...
O romântico relato do homem negro que fez o exame de DNA e vai conhecer os eus em Africa, uma vez lá pergunta ao Rei Africano como ele foi parar no Brasil. Senti falta de relatos tão emotivos de negros fazendo o mesmo em Europa.
África perdeu 22 milhões de habitantes em três séculos, mas o historiador John Thornton observou que o desbalanceamento entre o número de homens e mulheres foi compensado pela tradição africana de poligamia, a taxa de natalidade se manteve elevada, mesmo durante os períodos mais intensos de tráfico negreiro, permitindo que o contingente populacional fosse reposto gradativamente. Eu estava esperando o autor soltar um: Eles que lutem! Ta tudo de boa.
Em 2017 Emmanuel Macron afirmou que África tem problema civilizacional e criticou taxa de 7 a 8 filhos por mulher. O branco jogando a culpa pra o Africano
Tentaram por uma estátua de 4 metros da Rainha Catarina de Bragança no bairro do Queens em Nova Iorque e foram impedidos pelo movimento negro e movimento social. Catarina era escravocrata e homenageá-la em um bairro negro seria um despautério.
Rainha Jinga e seus feitos. Ela é colocada como uma mulher voluntariosa e arrematam que no final da vida foi uma pacífica e devota católica. No capítulo seguinte e dito que Jinga infernizava os Portugueses (ela negociava e resistia).
Beatriz do Nascimento já falava que o Quilombo se forma da necessidade humana de se organizar de uma forma específica e não da determinada pelo colonizador. Quilombo é uma estrutura social, e já estabeleciam suas lideranças que poderia ser o curandeiro, uma parteira. Fuga para ela está longe de ser movido pela incapacidade de lutar é antes de mais nada, decorrência de todo um processo de reorganização e contestação da ordem estabelecida. Dentro de um regime de escravidão, o Quilombo e seus correlatos são tentativas vitoriosas de reação ideológica, social, político-militar sem nenhum romantismo irresponsável. No capítulo sobre quilombo o autor até fala sobre isso, mas logo no início do livro ele define Quilombo como “redutos de escravos africanos fugitivos”.
Luiz Mott um homem branco gay usa a orientação sexual na tentativa descontruir a guerrialidade e força de Zumbi e o descreve como gay por ser possuidor de “temperamento suave e habilidades artísticas”. Eles não desistem.
As mulheres do povo banto tinham o corpo curvilíneo e de volume generosos e o autor manda observar o CARNAVAL DO RJ pra conferir. Nessa hora eu chorei de verdade. Olha a referência sexualizada, que falta empatia.
A sensação que me da é que se tenta passar que era tão lucrativo, que era praticamente inevitável e irresistível não sequestrar, matar, torturar, mutilar, queimar por dinheiro Até tubarões que foram o último jazido de muitos corpos de nossos ancestrais iriam sentir falta.
Danos físicos, psicológicos, crianças e grávidas torturada, mães assassinando seus filhos para protege-los da escravidão nos moldes do branco europeu, suicídios, homens negros mutilados, destruição da família e vínculos como tecnologia de poder, civilizações destruídas, genocídio indígena em toda a américa... Só quem tem banzo sabe.
Não sou historiadora e não refuto nenhum dado histórico do livro, falo do meu lugar de mulher negra leitora e a narrativa me incomodou.
Leitura cansativa.. Não recomendo para quem esta iniciando os estudos em relação étnicos raciais para auto conhecimento. Deve ser bom para trabalho escolar porque tem a coletânea de muitos dados e sao fáceis de localizar no livro.
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