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29 abril 2020

O genocídio do negro Brasileiro- Processo de um Racismo Mascarado


Primordialmente o autor contextualiza como o escrito chegou ao público. 

Originalmente foi um ensaio para o colóquio do Segundo Festival Mundial de Artes e Culturas Negras realizado em Lagos de 15 de janeiro a 12 de fevereiro de 1977, porém foi rejeitado. 


Não fiquei surpresa pois os assuntos não estão em consonância com a imagem que  sociedade brasileira queria se mostrar ao mundo.  

Fiquei deveras triste pois se o governo  tivesse trabalhado (aqui) o material desse livro, hoje teríamos uma outra realidade. Fim do racismo? Não. Mas estaríamos mais adiante para a conquista de nossa cidadania real. 

Ao se averiguar como hoje se fala sobre sexualidade e gênero como um assunto incentivador ao coito, da mesma forma,  o documento foi tido como propagador de crenças ideológicas. Os 6 delegados enviados pelo Brasil se quer se manifestaram, em omissão não quiseram estar envolvidos em debater as questões raciais do Brasil. 

A imprensa Nigeriana documentou a rejeição e por conseguinte se despertou a curiosidade para saber as condições do negro brasileiro.

Em vista disso o trabalho foi mimeografado (me sinto tão velha por saber o que é isso) e distribuído aos participantes do Colóquio que se organizaram em 5 grupos para discursão. Dessa maneira propostas foram lançadas. A delegação brasileira tentou impedir que as propostas fossem colocadas visto que Abdias não era um delegado oficial.

O ano era 1977 e o documento denunciava que o Brasil não fazia de forma obrigatória o estudo da história da África e consequentemente  negando a mais da metade da população do país conhecer sua história e raízes que por certo lhe ajudariam a formar uma identidade. 

Somente em 09 de janeiro de 2003 que a lei 10.639 foi assinada. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. 

Não posso deixar de comentar que estava na proposta, mas foi vetado que professores deveriam contar com a participação de entidades do movimento afro-brasileiro. Eu acho que ficaram com medo da revolução.

Os delegados oficiais produziram monografias de pretenso caráter científico (grifo do autor) e colocavam o afro-brasileiro e africano como objeto de pesquisa e destituído de humanidade e dinâmica histórica.

ATENÇÃO: a partir de agora vou usar o símbolo * para os falsianes

Um dos delegados Dr. George Alika (*) descreveu a religião de matriz africana como culto primitivo, mágico e animista. Esse autor seguia os estudos de Nina Rodrigues (*) que dizia que o transe era manifestação de histeria e patológico.

Outro delegado Antônio Vieira (*) não teve seu trabalho distribuído no colóquio, entretanto ele fez um pronunciamento onde omitiu qualquer referência aos problemas dos descendentes dos africanos no Brasil. 

Abdias é um escritor orgânico pois a matéria investigada também lhe atravessa de forma pessoal. 

Cita vários autores como o professor  Thales de Azevedo (*) que assegura que o mito da democracia racial é “orgulho nacional”. Fala de Gilberto Freyre (*) e o seu termo criminoso: morenidade (em uma única palavra ele consegue propor o desaparecimento do negro físico e espiritualmente através de estratégias de branqueamento).

O negro escravizado foi imprescindível para história econômica do Brasil. Café, Cana de açúcar, ouro e diamantes eram explorados pelos negros a base de violência e crueldade porém tampouco tiveram  recompensa financeira e ou simbólica, pois todo o conhecimento e ciência era bagagem dos escravizados.

O sistema escravocrata forçou uma fama de ser uma instituição benigna. O colono português utilizava de mentira e dissimulação para encobrir sua natureza racista e espoliadora. Ainda ousou dizer que a escravidão que já existia em África era semelhante à sua.  As ameaças e corrupção dos chefes tribais não foram contextualizados. O passado Africano fora distorcido. Há corajosos que citam que houve senhores escravocratas “bons e humanos”. Os supostos Senhores Benevolentes.

Os missionários cristãos tiveram uma participação efetiva e entusiástica no cruel, terrível e desumano tráfico negreiro.  Exemplos como Padre Antônio Vieira (*) e sua firme posição racista.  

Pierre Verger (*) um branco europeu que se intitulava porta voz do estudo sobre o negro e o africano disse que o Brasil é um local racialmente harmonioso e que o branco não é racista com o negro. 

O mesmo, glorifica a imagem da “mãe preta” amamentando a criança branca. Pelo contrário, essa imagem foi um dos mais terríveis crueldade racista do tempo escravocrata. Mulheres negras foram estupradas ou engravidavam de uma relação afetiva, mas não tinha direito a seu filho. 



A criança quando não vendida, não tinha o direito de ser amamentado pela própria mãe pois seu leite era propriedade do senhor que podia oferta-lhe a seus próprios filhos ou alugar/vender essa escravizada para que amamentasse outra criança. Não há nada de harmonioso nesse “símbolo” destacado por Verger.

A mulher negra foi escravizada, impedida de estabelecer qualquer estrutura familiar, prostituída e estuprada sistematicamente. Até hoje tem desprestígio social. O autor cita um velho ditado popular, mas continua atual
Banca pra casar,
Negra pra trabalhar
Mulata pra fornicar

Pierre Verger em plena Universidade de Ifé aplaude a violência sexual a mulher africana quando exalta algumas situações da relação dos filhos dos brancos donos de plantação com os escravizados:
“...teriam a sua iniciação sexual com garotas negras trabalhando nas casas grandes...” 

O Africano inválido, enfermo incurável ou idoso era lixo humano na concepção dos escravocratas que lhes concediam alforria para não lhe oferecer apoio ou subsistência.

Manter os Africanos e seus descendentes fora da sociedade exonerava as responsabilidades dos senhores, do estado e da Igreja. 

Monteiro Lobato (*) endossava o coro de que o negro sequestrado e trazido da África sob grilhões era o causador do “problema racial brasileiro" e que de certo o faziam de propósito por vingança. O autor infantil apostava suas esperanças em são Paulo que estava sendo injetado de sangue europeu.

O mulato (mantendo o termo original do livro) era geralmente fruto estupro da mulher negra e tinha designação especial no sistema escravocrata: feitor, capitão do mato entre outras tarefas de confiança. 

O branqueamento sistemático era tido como uma esperança para se aniquilar a “mancha negra” da sociedade” era uma aposta que tinha como objetivo a eliminar da raça negra ou seja, seu genocídio. 

O escritor José Veríssimo (*) exaltou que a mistura das raças iria eliminar a raça negra. Vários outros intelectuais com a mesma linha de pensamento foram citados.

A política imigratória foi instrumento básico para o branqueamento. Um decreto em 1890 proibia a entrada de indígenas da Ásia e Africanos. 

Getúlio Vargas (*) no fim do seu governo assinou o  decreto N 7.967 que dizia:

“Atender-se-á, na admissão dos imigrantes, à necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as características mais convenientes da sua ascendência europeia, assim como a defesa do trabalhador nacional.”


Rui Barbosa (*) em 1899 mandou incinerar documentos financeiros da escravidão para proteger o Estado, pois os escravocratas pretendiam pedir indenização devido o fim da escravidão oficial. Ato esse que fez com que perdêssemos documentos indispensáveis para uma análise histórica da escravidão. 

A discussão pública do racismo e discriminação racial era inibida e o regime militar agia de forma violenta.

A discriminação racial é a base da desigualdade social. A “boa aparência” nos anúncios de emprego era uma forma de dizer que a vaga não era para uma pessoa de fenótipo negroides irrefutáveis. A cor da pele é uma variável de peso na desigualdade econômica  em que o negro se encontra. 


A cultura Africana foi folclorizada para se tornar palatável.

 A religião de matriz africana era a única religião que era exigido registro policial. As casas passavam por inúmeras invasões onde eram confiscadas esculturas rituais, objetos de culto, vestimentas litúrgicas e as lideranças eram encarceradas.

O autor é fundador do Teatro Negro experimental... Enfim

O livro é um patrimônio imaterial. É inumerável a contribuição que o autor coloca no livro  do que é ser negro no Brasil. 

Abdias do Nascimento: Presente!
Abdias do Nascimento

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