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03 maio 2020

Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil


O livro é um acervo de textos escritos ao longo de 7 anos, período que a Drª Sueli Carneiro foi colunista do Correio Brasiliense. O debate público sobre racismo tem sido sistematicamene desencorajado no Brasil. É de se orgulhar o que filosofa fez pela nossa sociedade ao usar o seu espaço de visibilidade para debater e expor questões raciais que sedimentam a desigualdade existente. 

O racismo científico no Brasil teve como um dos seus expoente Nina Rodrigues. O psiquiatra defendia que as condições de raça imprimiriam à responsabilidade penal. Para o mesmo havia raças superiores e inferiores o que levou a concepções altamente discriminatórias que se alonga até os dias de hoje. De certo que se os negros eram considerados sub-humanos, seria a eles destinados “sub direitos”. Historicamente a desigualdade de direitos foi forçosamente naturalizada.

A criminalização do corpo negro, brutalidade policial, controle de natalidade dos negros são ações de ideologia eugenista onde o estado opera o poder de “fazer viver e deixar morrer” como disse Michel Foucalt. 

Um ex governador do Rio de Janeiro sugeriu o aborto como medida de prevenção a violência, de que mulheres estaria ele falando? 

Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro presidente da história a declarar em seu discurso de posse que há um problema racial no Brasil e que ele precisa ser combatido. É de fundamental importância falar que a autora destaca o governo de esquerda como o que mais deu oportunidade para pessoas negras ocuparem cargos de primeiro escalão. 

Aproveito para fazer um desabafo pessoal. Muito me entristece o comportamento paternalista e o medo de dividir espaço de poder com verdadeiras representantes das mazelas sociais da comunidade negra. Intelectual orgânica e conhecedora a fundo do que nós precisamos. Estamos em 2020 e a esquerda branca ainda  não entendeu que Agora é Ela! 
 
Vilma Reis
Não há mais espaço para negar o racismo institucional o momento é de implementar medidas antirracista. Sueli discorre sobre a importância das cotas raciais expõe algumas declarações dos que se posicionaram contra. Em sua argumentação ela cita que desde 1948 medidas especiais para promoção de grupos “desfavorecidos” existem no Brasil. 

Em uma rápida pesquisa me deparo com um documento intitulado Problemas de base no Brasil onde no capítulo Valorização do Homem Rural o governo identifica que a educação e saúde são primordiais para o crescimento do país e que a população rural não deve ser deslocada do seu habitat, mas também não pode continuar abandonada. 

A proposta era criar Colônia-Escolas nas fazendas com um vantajoso contrato de trabalho  (repito: vantajoso contrato de trabalho) em troca de se aceitar uma disciplina social, sanitária e educativa. Não me aprofundei sobre os resultados, mas é conveniente recorda que a população negra na área rural não tinha direito a propriedade, não acumulou bens materiais pois o sistema econômico anterior era a escravidão e ele era ferramenta de trabalho. 

Não acredito que a população negra tenha sido incluída proporcionalmente a essa ação do estado. No ano de 2018 o IBGE publicada que 20,7 % das pessoas pretas e pardas acima de 15 anos em área rural são analfabetas em comparação aos brancos que correspondem a 11% de seu grupo. 

É imperioso que se tenha delegacia de crimes raciais uma vez que no Brasil se queima indígena em ponto de ônibus e se espanca negros ate a morte em via pública casos lembrados pela autora.

No ano em que a autora escreveu um dos artigos o IDH da população negra brasileira estava 5 posições abaixo a África do Sul que mal havia saído do regime do apartheid. Isso só comprova que o mito da democracia racial é uma tecnologia tão poderosa que determina o lugar de preto sem necessidade de legislação. Parafraseando Kabenguele Munanga   Racismo no Brasil é o crime perfeito.


No ano 200 o Brasil ocupava 74º posição no ranking de IDH porém se fossem analisadas as informações apenas da população negra o IDH nacional despencaria para 108º posição.
A falácia do mito da democracia racial e o branqueamento foram os pilares para a ausência de identidade racial ou confusão racial. A miscigenação, fruto do estupro colonial de mulheres negras e indígenas, ocupou um lugar central na hierarquia cromática e de fenótipos. 

O branqueamento instrumentalizou o auto ódio de tal forma nos faz rejeitar o que somos. Cabelos, lábios, bunda, tom de pele, cor da gengiva, cor do bico dos seios, formato do nariz e por aí vai. Qualquer um é capaz de detalhar o que esta “errado” no seu corpo. Desarranjos psíquicos, descontrole financeiro na tentativa de “corrigir” o corpo várias são algumas das sequelas deixadas.

Tudo começa muito cedo.  A educação infantil por exemplo, para muitos foi o primeiro espaço coletivo de segregação. Relação com professores e outros alunos ainda hoje deixam crianças negras fragilizadas, hostilizadas e catatônicas como foi referido em um dos textos. Nossos heróis como Zumbi de Palmares, nossas lutas de resistência são pouco exploradas no ambiente escolar enquanto são enaltecidas os heróis e batalhas europeias.


Levantamento estatístico como o censo, é uma oportunidade de se identificar as características dos habitantes de uma nação oportunizando assim a criar políticas focalizando no que deva ser corrigido. O Brasil tem sido sistematicamente omisso no comprometimento com políticas raciais. A autora debate que pobreza não é resultado da falta de recursos, mas fruto de um alto grau de desigualdade e persistência em fortalecer políticas universais que não tem capacidade de corrigi-la. 

O acesso ao emprego e ao trabalho foi falado como condição primordial para reprodução da vida. O racismo institucional e a baixa escolarização são fatores de exclusão que devem contar com políticas afirmativas. Segundo a agência Brasil o percentual de pretos e pardos que concluíram a graduação cresceu de 2,2%, em 2000, para 9,3% em 2017. Resultados positivos, mas que devem ser ampliados pois ainda estamos muito longe da realidade ideal. O IBGE publicou que em 2018 64,2% dos desempregados eram negros, somando a isso 32,9% dos negros estão na faixa da pobreza e 8,8% na extrema pobreza. Não é justo.



A mulher negra no Brasil é submetida a um sufocamento social que atinge todas as dimensões de sua vida de uma forma negativa. Fernando Henrique Cardoso em 1995 ao receber a marcha de Zumbi de Palmares em Brasília afirmou que o ápice da exclusão social do Brasil poderia ser retratado por uma mulher negra, chefe de família da região do Norte ou Nordeste do país.


A leitura e o debate desse livro se fazem necessário. Textos com em média 20 anos que devem servir de base e reflexão e também como um marcador onde podemos comprar os nossos avanços ou retrocesso/estagnação.  Discutir novos caminhos para a luta, fortalecer estratégias já construídas e que deram certo como as cotas raciais é primordial.

O livro não nos deixa esquecer que ainda temos muita estrada, mas não desistiremos. 
 
Sueli Carneiro

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