Ângela inicia anunciando a que havia um déficit de conhecimento sobre a vida das mulheres escravas que eram referidas como promíscuas.
Desprovidas de gênero trabalhavam igualmente aos homens nas lavouras recebendo o mesmo nível de opressão com apenas um diferencial, a coerção sexual. Com poder econômico o homem branco tinha acesso ilimitado ao corpo da mulher negra.
O estupro era arma de dominação que ao mesmo tempo combatia a resistência das escravas e desmoralizava seus companheiros. Nas raras vezes que era tratadas com indulgência na gravidez, era exclusivamente para proteger a “propriedade”, a criança que estava por vir.
Famílias escravizadas eram desfeitas a força, os brancos se surpreendiam e temiam a forma como os escravizados criavam seus laços afetivos e relações familiares "como se fossem seres humanos”. O zelo de mulheres e homens ao prover alimentação, cuidado com as crianças, aquecimento do local de dormir eram formas de carinho que não podia ser apropriado pelo opressor.
Histórias são relatadas: mulheres negras líderes natas desde a adolescência comandavam fugas, resistiram aos abusos sexuais, cometiam o infanticídio (para não deixar a filha saber o que uma mulher sofre como escrava), sabotavam, aprendiam a ler e escrever de forma clandestina e passar para as outras.
Mulheres negras resistiam e desafiavam a escravidão o tempo todo.
Harriet Tubman é um dos maiores ícones da libertação escrava. Com seus conhecimentos ancestrais a ensinou a caminhar silenciosamente pela mata e a localizar plantas, ervas e raízes que serviriam de alimento e remédio aprendeu com o pai a cortar árvores e abrir trilhas e assim em 19 viagens libertou centenas de escravos.
Harriet Tubman |
Mesmo com colaborações inestimáveis a luta antiescravista a mulher branca nunca compreendeu a complexidade do que era ser uma mulher negra escrava e frequentemente evocavam a metáfora da escravidão quando tentavam expressar suas opressões.
As falsas simetrias se mantém até os dias de hoje. Nas fotos mulheres bancas comparam o uso obrigatório de máscara para prevenção da transmissão do COVID 19 ao uso da mascara de flandres. Na primeira foto o cartaz diz: “Só escravos e cachorros usam mordaças”.
Foto internet |
Foto internet |
O movimento antiescravista contou com militantes como Frederick Douglass que também foi também o homem de maior destaque na causa da emancipação feminina em sua época e foi muito ridicularizado por isso.
Frederick Douglass |
A autora trouxe reflexões sobre o livro A Cabana de Pai Tomás que me fez lembrar um pouco do clássico brasileiro Casa Grande e Senzala, ambos certificam a veracidade do ditado: “de boas intenções, o inferno está cheio”. O livro com intenções abolicionista determina que o negro tem características inerente a sua raça essencalizando esteriótipos a raça negra.
Uma série de mulheres brancas aliadas e seus feitos são descritos. Como Prudence Crandall que enfrentou a sociedade pela educação dos negros. Mulheres de classe média aderiram a campanha anti escravagista e por opressões machistas foram deslegitimadas, assim criaram suas próprias organizações contavam com a participação de mulheres negras e chegaram a ser escudo humano de alguma delas. Ao final de uma reunião havia um grupo racista pretendiam atacar violentamente essas mulheres negras então combinaram que cada mulher negra só sairia do local com uma mulher branca ao seu lado.
Na campanha pelo direito das mulheres várias lideranças brancas se destacavam, mas ignoravam a situação das trabalhadoras brancas de classe baixa e das mulheres negas. O foco era o direito ao voto para mulheres. Se negavam a falar da situação das mulheres negras e assim se demonstravam abolicionistas, mas não antirracistas.
Na trajetória feminista houve muita traição e sabotagem. Quando os homens brancos vislumbraram um aumento na superioridade masculina se tivesse votos dos homens negros, as mulheres brancas incandescidas começaram uma campanha para que os negros não votassem e com isso as máscaras foram caindo e seus ideais racistas vieram à tona. Progressistas se aliaram a supremacistas brancos para impedir o voto dos negros.
Sojourner Truth mulher negra ex escravizada com sua voz que soava como “o eco de um trovão” aspirava ser livres não apenas da opressão racista, mas também da dominação sexista. A transcrição do seu discurso “Não sou eu uma mulher? é ate hoje um dos mais citados na história dos afro-americanos.
O sentimento antinegro era profundo, generalizado e potencialmente assassino. Tudo que poderia levar o negro a uma emancipação era destruído. O encarceramento em massa por motivos pífios viabilizava a mão de obra carcerária. Mulheres negras que resistissem a estupros eram encarceradas e enviadas a trabalhar nas fazendas.
Enquanto trabalhadoras domésticas, o risco de abuso sexual era um dos maiores riscos a profissão e o homem negro que defendesse a esposa era punido. Disse W. E. B. Du Bois, qualquer homem branco “decente” cortaria o pescoço da própria filha antes de permitir que ela aceitasse um emprego doméstico.
Em Nova Iorque havia o “mercado de escrava”. Mulheres negras ficavam na esquina da rua 67 aguardando serem escolhidas por alguma mulher branca para trabalhar.
Cumpriam 72 horas de trabalho por semana e recebiam uma remuneração mínima que muitas vezes não correspondiam ao combinado e as vezes recebiam roupas velhas como pagamento.
Feministas branca lutavam para que balconistas tivessem cadeiras para sentar, mas suas empregadas negras eram submetidas a uma jornada de 14 horas diárias lavando, passando, arrumando, cozinhando e cuidando dos filhos.
O mito do estuprador negro foi criado para justificar o racismo científico e bestialização da raça negra. O assassinato de pessoas negras era “prevenção” a levantes e revoltas. Grupos como Ku Klux Klan e Cavaleiros da Camélia Branca alegavam que os linchamentos era para impedir uma suposta supremacia negra contudo essa justificativa não estava sendo mais plausível então passaram a alegar que era proteger as mulheres brancas de estupro.
Mulheres brancas assistiam aos linchamentos e levavam seus filhos que desde pequeno eram doutrinados a destruir o corpo negro.
Foto da internet |
O controle da natalidade toma voz quando mulheres brancas passam a exigir o direto de não ter filho. Para elas uma vida profissional, uma carreira acadêmica estaria em jogo caso fossem apenas donas de casas parideiras. Mas no debate não foi incluído a realidade das mulheres negras e da classe trabalhadora que não queriam ter tantos filhos por se encontrarem em situação de extrema pobreza.
Com a diminuição da taxa de natalidade entre mulheres brancas um novo pretexto surge para justificar as barbáries contra o corpo negro. Com medo de que a população negra pudesse superar em número a população branca a esterilização compulsória foi instituída pelo estado.
Por influências eugenistas crianças negras eram esterilizadas como prevenção. Tentava-se evitar nascimento de prováveis inaptos: “Pessoas com atraso e deficiência mental, epilépticas, analfabetas, miseráveis, que não tem condições de obter um emprego, criminosas, prostitutas e viciada.
O ex governador do Rio e atual presidiário Sergio Cabral sugeriu aborto para prevenção da violência no estado do Rio de Janeiro.
O livro foi lançado em 1981 e é um grande estudo de como o capitalismo atua no universo das mulheres estadunidenses. A exploração racial e sexual. Contextualiza o feminismo branco e as pautas da mulheres negras. Localiza a mulher negra em meio a escravidão e “libertação”, desmistifica o mito do homem negro estuprador.
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