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31 maio 2020

Eu,Tituba – Bruxa negra de Salém

A história das Bruxas de Salem é narrada por Tituba. Mulher negra fruto do estupro sofrido por sua mãe aos 16 anos de idade no navio negreiro.

A historia é ficção recheado de fatos reais como tráfico negreiro, genocídio indígena, situação do escravizado, privilegio branco, violência sexual a mulher negra, intolerância religiosa, diáspora negra se reconstruindo enquanto comunidade, saberes tradicionais ancestrais, sacralização animal, capitalismo, fake News, machismo, racismo, amor, a vivacidade do sexo, respeito a natureza e aos mãos velhos.

Sua mãe comprada por Daniell Davis foi mantida na casa grande para cuidar de sua esposa, também adolescente. Ao descobrir que Abena estava grávida a manda para senzala e lá ela conhece o Yao que a acolhe e passam a se relacionavam como casal. 

Tituba ao nascer lembrava a sua mãe da humilhação e a violência do estupro. 

Yao era um suicida. Suicídio e infanticídio eram formas de resistência e para muitos o único meio de liberdade.

Mulheres brancas mesmo sofrendo machismo tinham proteção. Controlar o corpo da mulher branca era controlar os herdeiros, gestão de negócios. No império Romano por exemplo familiares consanguíneos se casavam e tinham filhos entre eles para manutenção do poder econômico.

Aos 7 anos idade a mãe de Tituba resistiu a um novo estupro e cometeu o mais grave dos crimes, golpeou um branco. Foi enforcada e Tituba expulsa. 

A criança contou a solidariedade dos seus iguais e foi acolhida pela velha Man Yaya com quem aprendeu os segredos da natureza, a sacralização dos animais. 

Um dos ensinamentos mais importante da velha foi: não use seus talentos para vingança e sim para servir e consolar. 

Com seu núcleo familiar morto, viveu em um barraco de madeira e era visitada pelos espíritos da Man Yaya, de sua mãe Abena e de pai Yao. Nunca estava só, seus ancestrais lhe acompanhavam.

Foto da Internet
Um dia andou além do limite que considerava seguro e avistou uma carroça com escravizados que a reconheceram e fizeram reverencia pois sabiam do poder da velha.

Foi ainda além dos limites até que conheceu John Indien que foi seu primeiro amor.

A velha Man Yaya avisou a Tituba: homens não amam. Eles possuem. Eles subjugam. Mas Tituba apaixonada se entregou a esse amor e fez o inacreditável, trocou sua liberdade para viver enquanto escrava para estar ao lado de John. 

Caiu nas garras de Suzana Endicott, uma mulher branca e rica que era contra a escravidão, mas a favor do racismo.

Teve os primeiros contatos com o cristianismo, foi forçada a aprender orações, ouvira pela primeira vez as palavras satanás e bruxa. 

Não se deram bem.  Tituba para se vingar dos maus tratos e provocou em Suzane uma doença que lhe traria constrangimento. Então Suzane doou Tituba e o marido para Samuel Parris. Era ele um fanático religioso,  branco pobre e com pouco estudo, que se apresentava com reverendo e era dotado de uma crueldade sem tamanho que estava de mudança para Boston para tentar emprego de capelão em alguma igreja.

De Boston o pastor mudou-se para Salem para assumir uma igreja. O dinheiro era pouco então alugou John para ter algum sustento.

Tituba confiou nos brancos e foi traído por todos. Cuidou, protegeu, alimentou, curou mas não adiantou. 

Foto da Internet









Era abordada por pessoas "de bem" que lhe pediam ajuda para vinganças. Maridos sonhavam com a morte de esposas, esposas venderiam a alma dos filhos para se livrar do pai, vizinho queria exterminar vizinha, irmão querendo matar irmão, filhos desejando acabar com os pais.


A filha e a sobrinha de Parris foram instruídas a representar uma possessão demoníaca na presenta de Tituba. Ao vê-la as duas se jogavam no chão e tremulavam. 

As acusações de bruxariam então tomaram forma até que foi enviada para cadeia para aguardar seu julgamento. Antes de ser levada para a cadeia Samuel Parris com companheiros a estupraram com um pedaço de madeira.

Foi uma época fervorosa em Salem, qualquer comportamento considerado anormal aos olhos cristãos ia a julgamento. Mas somente mulheres e meninas eram parceiras de Satanás. Enforcar, puxar pela carroça, queimar em fogueira essas mulheres era um espetáculo esperado e disputado.  

O tempo que ficou na prisão conheceu Hester, uma mulher branca grávida e presa por adultério. A nova amiga sempre falava: “Brancos ou negros, a vida é boa demais para os homens”. Hester cometeu suicídio, mas voltava em espírito para conversarem e Tituba que descobre a possibilbilidade da bissexualidade. 

Houve um perdão geral e soltaram as que não haviam sido assassinadas, mas alguém teria que ir lá pagar a conta da cadeia. Seu marido, que havia aderido as mentiras  e estava convulsionando pelo chão e acusando mulheres de bruxaria não foi lhe buscar. Ela não quis saber mais dele, já que compactuava com o sistema.

O policial a vendeu com escrava para não ficar no prejuízo. Foi então comprada por um judeu Benjamim Cohen d’Azevedo, viúvo que precisava de alguém para cuidar de seus nove filhos, mas acabam tendo um relacionamento amoroso.

Na nova casa ela descobre que existe intolerância religiosa perseguição a brancos também. O novo senhor fazia seus cultos escondido e mesmo assim sua casa foi apedrejado, incendiada e todos os filhos mortos. Por fim ele fala que não era por causa da fé e sim dos negócios, a desculpa era de que estariam eliminando um judeu, mas estavam eliminando um concorrente comercial.

Ela recebe alforria desse homem e volta a Barbados. Encontra um grupo que estavam indo para uma espécie de Quilombo, se une a eles e lá conhece Christopher o líder que era casado com duas mulheres mas passa visitar a cabana da Tituba porque ele queria um feitiço para se tornar imortal e deixou a entender que daria sexo em troca. 

Foto da Internet
Tituba disse que a magia não seria possível. Tornaram-se amantes. Cristopher passa a lhe tratar com indiferença e grosseria e ela resolve ir embora pra seu antigo barraco da época da adolescência.



Ela e a comunidade ficam felizes com o reencontro.  Ganhou muitas sementes e animas para o seu quintal e em troca cuidava da saúde de todos da comunidade.

Se descobriu grávida. A maternidade era uma triste felicidade, o futuro da criança negra estava nas mãos do sistema escravista. Como já tinha feito um aborto de um filho do John, essa gravidez do Christopher resolveu levaria até o fim. 

Em uma tarde levaram a ela um jovem chamado Iphigene que estava em frangalhos pois havia recebido 250 chibatadas em todo o corpo. A deformação era tão grave que era pelos discretos suspiros sabiam que ele ainda estava vivo. 

Cuidou dele com afeto maternal. Ao ver as cicatrizes de Iphigene e olhar pra sua barriga, desejou um mundo melhor pra receber seu bebê. 

Uma revolução foi organizada, a meta seria incendiar as plantações e casas grande para atingirem a independência. 

Iphigene era um dos líderes que com seus comparsas roubava armas dos arsenais pois, Barbado era a ilha onde os colonizadores estocavam as armas para suas guerras com a Franca pelo mundo em disputa de território colonial. 

O jovem revelou um amor de homem pela Tituba que de início resistiu por considerar incestuoso mas, que logo cedeu aos encantos do jovem. 

Um traidor entregou os planos e Tituba recebeu o que  não aconteceu em Salem, foi queimada em uma fogueira e se tornou ancestral protegendo a todos que lhe queriam bem.


Tituba amou demais o amor!
Maryse Conde

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