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12 junho 2020

O Movimento Negro educador - Saberes construídos nas lutas por emancipação.

                  

Nos últimos dias ocorreram atos antirracista em vários países pelo mundo. Uma reação ao assassinato a sangue frio e em via pública de um homem negro estadunidense chamado George Floyd. Em protesto incendiaram a delegacia de Mineápolis/EUA. E então uma pergunta ficou no ar: por que o Movimento negro brasileiro não faz o mesmo?

 

Deve-se ter em mente que a diáspora não pode ser igualada. Cada país teve seu processo de colonização como por exemplo o Haiti, Brasil, Colômbia, Cuba... Todos  usaram mão de obra escravizada sequestrada de África e possibilidades de (re) existência foram construídas de forma diferente. O que os iguala é o racismo e a crueldade imperialista que massacrou corpos, identidades, violou crianças, abandonou idosos.

          Foto da Internet

O livro fala da trajetória do movimento negro enquanto educador. 

Escrito em um período de grandes mudanças políticas devido ao Golpe disfarçado de impeachment. Foi início de uma era de retrocessos e realinhamento de políticas neoliberais. 


Uma das primeiras ações dos golpistas foi, extinguir o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial. Da Juventude e dos Direitos Humanos. 

                                Foto da Internet

O movimento negro tem sido o protagonista de muitas vitórias. A inclusão do racismo como crime inafiançável na constituição Federal e a obrigatoriedade do estudo da história afro-brasileira e africana nas escolas públicas e particulares são alguns exemplos. 


O debate racial foi ampliado e hoje somos gratos a todos que na época da ditadura militar foram perseguidos, espancados e mortos pela luta antirracista.

                                    

     

A autora não se prende em conceituar o que é ou que não é o movimento negro, mas se importa em compreender a potência desse movimento social e destacar as dimensões mais reveladora do seu caráter emancipatório, reivindicativo e afirmativo. Ele é o grande produtor, sistematizador e articulador de saberes. Educa pessoas, coletivos e instituições sociais.


Escolheu focar na educação por ter sido um direto sistematicamente negado por muito tempo as negras e negros brasileiros. A condição de desigualdade que o negro se encontra nunca foi uma simples coincidência ou uma mera sequela inevitável da escravidão, mas sim fruto de um complexo sistema racista, uma aliança entre a elite, estado, o judiciário e a igreja que intencionalmente dificultavam a transição do ex-escravo/livre para cidadão.

                                  

O início do século XX foi o ápice do racismo científico que atribuía a população negra o lugar de inferioridade. Surge na mesma época a imprensa negra, Jornais que tentam romper com o imaginário racista construído no final do século XIX. Em 1931 a Frente Negra Brasileira  visava educação e integração do negro na vida social político e cultural e principalmente na denúncia ao racismo. 


O Teatro Experimental Negro (TEN) nasceu em 1944 para contestar a discriminação racial, formar atores e dramaturgo. O TEN alfabetizava seus participantes recrutados entre empregada doméstica, favelados e operários. 


Em 1978 surgiu o Movimento Unificado Contra a Discriminação Étnico-Racial (MUCDR) que foi rebatizado como Movimento Negro Unificado (MNU). Organização tem caráter nacional e tem a educação e o trabalho como principais pautas. O MNU talvez seja o principal responsável pela formação de uma geração de intelectuais negros que se tornaram referência acadêmica na pesquisa sobre relações étnicos-raciais. 

                             

Apenas em 2001 que o Brasil reconheceu pela primeira vez internacionalmente a existência institucional do racismo. Desde então o movimento negro intensificou o processo de politização e ressignificação da raça. 


É necessário construção de uma nova pedagogia, a pedagogia das ausências. Tudo que fora silenciado e desprezado pelo Norte Global com seu epistemicídio deveria ser revisto. O saber civilizatório e a ciência negra/indígena devem ser usados para educar e humanizar. É através de nossa história que vamos construir nossa identidade. 


Raça é uma construção política e social e o racismo organiza um sistema de poder econômico de exploração e exclusão segundo Stuart Hall, citado pela autora.


Ressignificar o 13 de maio nas escolar e ensinar sobre Zumbi de Palmares e o 20 de Novembro é nos fortalecer.


A estética corpórea negra ocupa um local central como educador. O imaginário social é construído baseado em estereótipos para desqualificar, inferiorizar o negro aponto dele próprio  negar sua existência ou até mesmo negar a existência do racismo. Regulados por um padrão branco europeu o negro já nascia “com defeito” (grifo meu). 


Cor de pele, tipo cabelo, formato de nariz, formato de corpo são definidores de beleza. 


Em meio ao processo de auto reconhecimento o capitalismo não da trégua e toma pra si símbolos étnicos, esvazia-os do seu sentido político e os transforma em mercadoria. 


O mercado não abre mão da opressão. 


Eu, levei algumas décadas para amadurecer e deixar meus cabelos naturais. Acompanhei o mercado se recusando a usar o nome crespo nas embalagens e não contratar modelo com minha cor. Em viagens aos EUA eu pude comprovar o que já havia lido nas redes sociais sobre a manutenção da criminalização das consumidoras de produtos para pele e cabelo crespo.

     

A presença do corpo negro em espaço de poder como as universidades causou estranheza. No período de aprovação da política de cotas um grupo intitulado de “113 antirracistas contra leis das cotas raciais" descortinou o véu da hipocrisia. Se diziam progressistas mas usavam o argumento perverso do “mérito” e da “competência”.  Encabeçam estratégias para manter a exclusão do negro das universidades e contavam com todo apoio da mídia hegemônica. Que nos sirva de alerta. Alianças antirracistas se estremece quando conquistamos poder.


Eu me recordo que uma professora de um instituto Federal do Rio de Janeiro que escreveu um longo texto nas redes sociais dizendo que se espantou ao entrar na sala de aula  e se deparar com alunos e negros. Alegou que os aprovados em uma das provas mais concorridas do Rio de Janeiro mal sabiam segurar um lápis e que teve vontade de sair correndo e perguntar para o STF o que faria com esses negros (porque alunos eram os outros).


O espaço universitário tem que se reinventar para a permanência do novo tipo de aluno. Brancos e negros no Brasil não se encontram tanto. O imaginário construído a respeito dos negros e indígenas de que são vítimas, “sem cogito” faz parte de uma ideológica racista. O ideal da brancura estava sendo questionado. A descolonização dos currículos e do conhecimento iria acontecer.


O movimento negro não caminha sozinho, ao seu lado estão os movimentos sociais como o movimento de mulheres negras, sindical, Feminista, Trabalhadores sem Terra, Indígena, LGBT e a autora faz uma observação, cada um tem as suas pautas e o ideal seria se essas pautas pudessem se a articular em uma comunicação dinâmica em pro de um objetivo comum que é lutar contra o racismo, patriarcado, o capitalismo, as discriminações, a colonização do poder, do ser e do saber.


Os saberes emancipatórios indagam a pedagogia reguladora e conservadora. A educação de um modo geral deveria ser campo por excelência a construir muitas entradas e saídas nas fronteiras que nos separam.


Com a emancipação do negro, toda a sociedade evolui.


                                     







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