1. 3. 4. 5. 10. 14. 19. 24. 29. 30. 31.

22 abril 2020

Amada

Amada é um livro baseada em uma história real. Ganhou o ganhou o Pulitzer de 1988 dentre outros.

Antes de mais nada é preciso dizer que o livro fala de amor, amizade e maternidade. Desnuda a construção das relações afetivas dos negros escravizados. 

Há um número grande de personagens e a autora lhes concede vida e individualidade. Explora seus sentimentos, emoções e reações aos acontecimentos da vida. A todos eles são dados humanização negada pelo branco. 

Os personagens contam as suas histórias. Sao sujeitos, sao protagonistas da própria existência. Falam de dores que não podem mais ser naturalizadas. 

Para citar alguns temos a Sethe, uma escravizada que comete infanticídio para proteger os filhos do sistema escravocrata 

Antes de ser vendida para “Doce lar” ela tinha acesso mínimo a sua mãe uma vez que escravizada trabalhava initerruptamente e quando chegava Domingo o cansaço físico não permitia interação com a filha. 
 
Foto: internet
Nos dias de hoje babás e empregadas domésticas, trabalhadoras majoritariamente negras experimentam mesmo processo. Passam a semana inteira dormindo no trabalho longe de filhos, amigos, companheiros. É de crucial importância lembrar que a Emenda Constitucional 72, mais conhecida como a PEC das Domésticas (PEC 66/2012) por analogia, é um dos pilares da angústia dos que pedem o “Brasil de volta”. Ademais faz-se costume "pegar" uma menina criança ou adolescente do interior pra “ajudar”. Desse modo chama a atenção de como a estrutura racista perpassa a convivência da população negra. Vínculos e convívio extremamente limitados. Não é à toa que a fragilidade de nossas relações está sempre em destaque nos nossos debates. 

Após anos vivendo sozinha Sethe teve um relacionamento amoroso e quando seu parceiro inesperadamente inicia um dialogo, embora sem saber qual o assunto, ela se prepara para aceitar, liberar e desculpar seja o que for. Mulheres negras ainda compartilham dessa angustia. Muitas se mantem em relacionamentos que não lhe agrega pelo medo da tão certa solidão.  Deixa o coração pronto para perdoar e continuar. 

Selo Pago o personagem que é o grande amigo da comunidade negra.  Dotado de múltiplas tarefas como agente, pescador, barqueiro, rastreador, salvador, espião. Ajudava a todos, se dedicava a fazer tudo que pudesse em pró dos seus.  Contudo, ele tem um segredo do passado. Mediante atos reprováveis do branco sua vingança se concretizou em quem não merecia.

Paul D foi conviveu com Sethe na juventude até que ela fugiu da Doce lar com os filhos. Ambos se reencontraram anos depois e ele então conheceu Denver a filha de Sethe.  Observando o comportamento de ambas,  advertiu a amiga  do quão perigoso era amar, principalmente se o amor fosse dedicado a uma filha.  
 
Foto: internet
É exemplificado através desse personagem como era a existência do homem negro. Era preciso se esconder, roubar pra comer, dormir em árvores durante o dia para poder caminhar a noite, fugir de atacantes, patrulheiros de escravos fugido. 

Ele foi Guerra, mas os negros não tinham direito a ter arma e recebiam menos que os soldados brancos. No Brasil o filho do senhor branco quando convocado a servir o exército enviava em seu lugar o escravo para sofrer os riscos em seu lugar.  

Nas fugas contava com o apoio dos índios Cherokees ou dos Miami que acreditavam que a terra era sagrada e tiveram suas montanhas cortadas em estrada, poços e casas arrancados.

O encarceramento pelo sistema prisional era um lugar de violência sexual aos homens negros além da tortura física e psicológica. Não muito diferente dos dias atuais.

A mulher negra além de escravizada, era também prostituida e os senhoras ainda as alugavam para sexo com intuito de procriação. A mulher negra era impedida de estabelecer qualquer estável estrutura de família. No Brasil também há relatos onde Portugueses de forma lasciva, indolente e gananciosa prostituiam as escravizadas como forma de renda.

A Sogra de Sethe era a Baby Suggs.  Teve sua alforria comprada pelo filho. Com o quadril quebrado por trabalhar em exaustão nos campos então a transferiram para os serviços domésticos. 

Todos que ela conhecia ou amou na vida, haviam fugido, enforcado, alugado, emprestado, comprado, trazido de volta, preso, hipotecado, ganhado, roubado ou tomado. Realidade que enfraquece laços afetivos.

No advento da para muitas não valia a pena olhar para os filhos ao nascer ou tentar aprender seus traços, na certa seriam todos vendidos e o desapego doloroso para mãe e filho.

Essa personagem destrói o mito do senhor Benevolente. Doce lar era uma fazenda que pertencia a um casal de brancos que eram contra a escravidão, se orgulhavam de não realizar castigos físicos e de chamar os escravos de homem, mas os mantinham no sistema escravista. A privação da liberdade e o trabalho exaustivo sem remuneração era mantido. Se orgulhava de permitir que o filho da Baby trabalhasse de forma brutal para comprar a alforriada dela ao invés de simplesmente concede-la.

Baby Suggs dizia:  “Não existia má sorte no mundo, mas sim gente branca”.
 
Foto: internet
A resiliência se faz presente. Filho cuida de mãe. Mãe cuida de filho. Tudo dentro das possibilidades muitas vezes não convencional.

A solidariedade imperava entre os escravizados e libertos. Ajuda mútua, orações, banquetes, códigos/sinais para organizar ou apoiar as fugas, agasalhar a quem tem frio, alfabetizar. 

Amada é o fantasma da filha falecida de Sethe ela interage com a família. Ela é o pilar de toda a trama.

 “gente que morre mal não fica no chão”

Envolvente e misterioso.  

Uma escrita intrigante. No inicio ficamos muito perdidos e ai onde vamos encaixando as peça e tudo faz sentido. 

Toni Morrison não da nada de mão beijada. O leitor que lute!
Toni Morrison

Nenhum comentário:

Postar um comentário