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20 abril 2020

O amanhã não está a venda

Ailton Krenak é um ativista do movimento socioambiental e da defesa dos direitos dos indígenas. 

O autor nos presenteia com mais um texto que me levou a refletir sobres os próximos passos da humanidade. Na verdade é de suma importância que nos questionemos:

Somos de fato uma humanidade?

Debate-se sobre uma porventura transformação do mundo mediante a pandemia. 

Observa-se que tal cenário, onde há uma doença de fácil contágio e que a depender de sua gravidade pode causar a falta de ar, o aumento da demanda de ar é imprecindivel  para o tratamento. O oxigênio atmosférico é de graça e pra todos, mas no COVID 19 pode ser  necessário o uso de uma máquina para fazer com que o oxigênio entre no corpo e garanta a vida.  

É conveniente recordar-se que nem todos terão acesso a essa máquina. As desigualdades raciais existentes na nossa sociedade estratifica quem tem acesso a assistência especializada. O atual ministro da saúde declarou que é um DESPERDÍCIO comprar um elevado número de máquinas para salvar o maior número de vidas possíveis pois após SALVAR as vidas, o que teremos? Aparelhos sem utilidade econômica e pessoas vivas. Que desperdiço né? (toneladas de ironia aqui)

Somos de fato uma humanidade?

Segundo a historiografia nota-se que o o comportamento da sociedade se repete mediante afinidades. No Brasil hoje, vivemos uma adoração explícita pelo fascismo e com os ideais nazistas. Poderíamos pensar, poxa essas coisas são da Itália e da Alemanha, o brasileiro só está sendo inocente. Não, não há nada de inocência, existe sim intencionalidade de estratificar ainda mais a sociedade.

Somos de fato uma humanidade?

O Brasil viveu quase 400 anos oficialmente escravizando seres humanos. Pela facilidade de rota através do atlântico, mulheres e os homens negros eram objetificados e transformados em mercadoria de fácil substituição. O negro escravizado trabalhava arduamente por média de 7 anos e quando aleijado ou mutilado ou idoso,  quando haviam lhe estragado as pernas, costas, cabeça, olhos, mãos, rins, útero, língua e não restava mais nada para explorar, aqueles que sobreviviam eram lidos como lixo humano, dava-se a “alforria” que na verdade era uma forma oficial do estado de esse eximir de qualquer responsabilidade sobre aquele corpo. E com o propósito de manter essa estratégia, a reforma da previdência segue o mesmo pensamento. Não podendo mais forçar a trabalhar a base de chicotada e nem usar um pelourinho no meio de Madureira, força-se a trabalhar desde a juventude até a idade onde biologicamente não se consegue mais ser tão produtivo, por isso o aumento do tempo de contribuição. Cada segundo de vitalidade “pertence” a produção de riqueza para um grupo privilegiado. Reduziu-se o valor da aposentadoria deixando claramente que a responsabilidade de cuidar desse corpo inválido ou não, produtivo ou não, nao é do estado. 

Somos de fato uma humanidade?

O roubo e ocupação territorial pelos europeus provocou ao longo dos séculos, cerca de 70 milhões de mortos. O genocídio indígena é considerado o maior genocídio da história da humanidade.
Foto: internet 
O genocídio das populações indígenas no Brasil é uma ação do estado desde sempre. Em 1976 Rangel Reis, em nome do governo declarou em uma entrevista a meta do presidente Geisel que era em 10 anos reduzir a 20 mil os 220 mil índios existentes no Brasil. 

Os vírus da varíola e do sarampo foram utilizados no Brasil como arma biológica para exterminar os índios de forma proposital. O mais "clássico" aconteceu em Caxias, no sul do Maranhão, por volta de 1816.  Para se livrar dos índios com o proposito de criar gado em suas terras. 

Os fazendeiros de Caxias "presentearam" um grupo de 50 índios com roupas de moradores da vila que haviam contraído varíola. De volta a suas aldeias, os índios espalharam o vírus. A epidemia se disseminou rapidamente pelo sertão e atingiu até tribos a 1.800 km de Caxias.
Foto: internet



Somos de fato uma humanidade?






De forma perplexa li uma notícia no da 18 de março de 2020 no jornal AC 24 horas noticiou que Turistas dos Estados Unidos e países da Europa que buscavam retiros espirituais em aldeias indígenas na região de Tarauacá/Envira e foram barrados pelos caciques Yawanawás, no Oeste do Estado do Acre. Eles não apresentaram testes negativos para o covid-19 e mesmo não apresentando sintomas da doença foram orientados a retornar para Cruzeiro do Sul e seus respectivos países.


Quem vai parar o branco? É sério gente, já deu.

Aqueles que realmente tem uma relação de afeto e respeito pela terra como caiçaras, índios, quilombolas e aborígenes são classificados como sub humano. De certo, humano então seriam as grandes corporações que contaminam água, o ar, que privatizam a assistência de saúde, que acumulam mais do que precisam, que deixam alimentos estragarem se o preço não estiver bom mesmo que haja fome nas proximidades. Humanos são os que com a crise estão demitindo seus funcionários mesmo tendo tido 300 milhões em lucro em 2019...

Somos de fato uma humanidade?

Como vamos sair dessa pandemia ainda é um mistério entretanto como estamos atravessando é indubitavelmente para se lamentar. 

As populações vulnerabilizadas pela desigualdade racial é a preferencial pra morrer. Com bem lembrado no texto de Krenak o idoso e o pobre são descartáveis para a manutenção da atividade econômica segundo o presidente da república. A banalização da vida e banalização do poder da palavra permite que líder de uma naçã0 fala isso publicamente sem causar incomodo o suficiente para retira-lo do cargo. 

Dentre inúmeras razoes é preciso que nada volte ao “normal”. 

Repetir ações do passado não deu certo. É necessário aprender com ele.

O amanhã não está a venda.
Ailton Krenak

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