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31 julho 2020

Racismo e fascismo & O corpo escravizado e o corpo negro

Racismo e fascismo & O corpo escravizado e o corpo negro

                Foram disponibilizado gratuitamente dois ensaios da Toni Morrison chamados Racismo e fascismo e o outro O corpo escravizado e o corpo negro. Os textos foram escritos em 1995 e 2000 respectivamente.  Ao ler tive a sensação de que eram datados a bem pouco tempo pois trata de realidades orgânicas e vivenciadas por nós brasileiros nesse tenebroso momento político.


            Toni elencou 10 passos essenciais que alicerçam da dupla inseparável: racismo e fascismo que tem a fabricação do inimigo como principal estratégia.


Na diáspora a cor da pele é quem determina quem vai morrer ou viver, de que forma e quando, como bem disse o filósofo camaronês Achille Mbembe. 

Achille Mbembe

Demonizar, mentir, criminalizar, patologizar são mais alguns itens da lista. Inviabilizar a ciência, desqualificar e destruir tudo que possa mostrar a verdade. Tudo é feito com o apoio da grande mídia que divulgando massivamente os ideais racista e fascista.  


Em minhas reflexões incluiria na lista a religião. Religiões tem servido como amuleto para justificar a maldade intrínseca do ser humano e suas ações arbitrarias. Possibilita se eximirem de culpa pois tudo é feito em nome da fé. O poder, me atrevo mais uma vez e cito o capital, é a espinha dorsal dessas ideologias. 


            E a história do povo preto? Devemos esquecer e seguir adiante ou devemos rememorar. Não pesquisar e debater sobre o que nossos ancestrais foram submetidos é o ideal?

Foto da Internet

Não para James Camaron que em 1988 inaugurou o Museu Americano do Holocausto Negro e não para Toni que foi indagada em uma entrevista se realmente é necessário que ela detalhasse em seus escritos os horrores e as barbaridades que o branco submeteu a população negra em África e na diáspora. Apagar da memória 3 séculos de horror racial e as estratégias de resistência dos nossos ancestrais em nome da paz na consciência de quem os causou é uma agressão renovada é nos mandar engolir o choro.


Toni, exausta, desabafa. Para a nossa dor não existe um lugar para que possamos chorar, deixar fluir o banzo. Não há memoriais gigantes que nos façam lembrar dos nossos e de nossa resistência. Não há lugar especifico para esse tipo de acolhimento e para prestarmos homenagens.

Museus são formas poderosas de eternizar a memória. 

James Camaron

       Abdias do Nascimento beijou o chão da serra da barriga, terra de zumbi dos palmares em 20 de novembro de 1988. O gesto foi diante de Lélia, Jose Miguel, Jesus, Abgail, Mãe Hilda, Aguinelo da Casa Branca, Edialeda e outros. E foi para lá que foram as suas cinzas. É disso que Toni está falando.

Foto da Internet

Escravidão e racismo são fenômenos diferentes. A escravidão existiu na história das civilizações em diversos povos e não era necessariamente racista. Comprar e vender pessoas era uma prática antiga. A racializaçao para a conquista do Novo mundo que transformou a história da humanidade. A demonização de traços raciais nitidamente identificáveis marcava a divisão entre escravizados. O corpo negro foi transformado em um fardo político no mundo.

Foto da Internet

Hoje a principal tecnologia do controle dos corpos negros é o encarceramento em massa. Esse método serve também para o enriquecimento do grupo dominante. Como bem disse o professor André Nicolitt, no Brasil a mesma justiça que para um crime de racismo não chega aos fins de condenação, uma acusação de crime ao patrimônio como roubo, leva ao encarceramento imediato que se mantem durante o tempo dos tramites na justiça e chega na maioria das vezes a condenação. São verdadeiras arapucas jurídicas que domina vidas e tem poder de controle social que tem foco no corpo negro.

Toni Morrison





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