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30 março 2020

A escravidão no Brasil

Livro de Joel Rufino dos Santos, Escritor, Historiador, Doutor em Cultura pela UFRJ. Pertencente a uma coleção Como Eu Ensino que propõe a professores novas abordagens sobre antigos assuntos.

A proposta de repensar a forma de ensinar sobre escravidão tomou força com o movimento negro e organizações de ações antirracistas. O autor sempre usa a palavra “descoberta” entre aspas (foi invasão).

O livro fala sobre os vários tipos de escravidão, a dos chineses, incas, bantos, grego e outras. Chama a atenção para não se ensinar sobre a escravidão exclusivamente como um fato econômico, mas sim como capítulo da história mundial do trabalho. 

Ao se estudar sobre a escravidão o constrangimento em sala de aula é incomensurável para o aluno negro. O reforço do lugar de vitima e de derrotado não pode ser a historia única. O negro Africano ou brasileiro é o civilizador do país e não exclusivamente uma vítima. 

Na idade moderna a escravidão se tornou a principal forma de trabalho com o uso de mecanismos de tortura sistemática.

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Esses aparatos eram usados em via pública e a sociedade cristã escravocrata assistia de forma indiferente ou de forma entusiasmada com direito a aplausos.

Essa indiferença/satisfação é uma das heranças da escravidão. O que gerou mais comoção? Ciclone tropical Idai que assolou Moçambique ou o incêndio da catedral de Notre-Dame ? O que teve mais cobertura Jornalística? Atirador de Las Vegas ou COVID 19 no continente Africano?

Vídeos de “esculachos” com tortura física e psicológica a um corpo negro e pobre culpado ou não, são populares entre os “cidadãos de bens”, porém 117 fuzis (a maior apreensão de arma da história do Rio de Janeiro) em um condomínio de luxo não  desperta a mesma bile por justiça feita pelas próprias as mãos. O autor nos chama a reflexão de quando falamos “torturaram um inocente” estamos naturalizando que pra alguém a tortura é válida e essa é  mais um herança da escravidão.

O trabalho braçal ficou tão estigmatizado que há quem considere até os dias de hoje um ato humilhante carregar um saco de embrulho, lavar a própria roupa, limpar própria privada ou criar o próprio filho.

O negro africano é retratado nos livros apenas como um animal de tração e operário de enxada. São omitidos ou não valorizados que a mineração de ferro no Brasil só foi possível pela expertise do povo Africano, assim como a criação de gado e o que há de principal na culinária. Uma infinidade de ocupações e ofícios chegaram ao Brasil através da escravidão.

Crianças negras eram usadas como brinquedos chamados leva-pancadas onde a criança branca por diversão reproduzia  o que os adultos brancos faziam a corpos negros. O sadismo o gosto violento ou perverso era alimentado desde a infância e adolescência. 

O cônego Jácome de Queiroz confessou que levou a sua casa uma menina que estava vendendo peixe pela rua, teria de 6 a 7 anos, e por engano ele a corrompeu pelo traseiro. Um fatos históricos horrendo.

A escravidão foi pautada na exacerbação da violência e da crueldade, desterro de milhões de pessoas, genocídio ameríndio.

O maior comerciante de escravo foi o Chacha. O negro Africano participou do tráfico e os retornados também mantiveram o tráfico de escravos como negócio.

O escritor James Baldwin em 1950 visitou a porta do não retorno em Senegal. Ele, homem negro em diáspora indignado com a crueldade do tráfico e com lágrimas nos olhos disse: “Os homens só se diferenciam pelo tamanho de sua maldade.

A resistência a escravidão existiu em todos tempos e deve ser explorada em sala de aula. Rebeliões armada ou muda, sabotagem do trabalho, aborto, infanticídio, suicídio, assassinato dos senhores, feitores, eu incluo sincretismo religioso, a amizade e família ...

 Os Quilombos são retratados na história como “local de fugidos”, porém fuga é resistência e não acomodação e Quilombos são sociedades complexas, autônomas que aceita todas as etnias e não compactua com a forma de produção econômica europeia. Nesse sistema social todos trabalham e todos tem acesso a alimento e moradia.

Sociedades, organizações secretas, clubes, foram fundadas. A organização mais antiga e que existe até hoje é a Sociedade Protetora dos Desvalidos, de 1833. Vale a pena pesquisar sobre. 

O autor citou um fato, Bob Kennedy esteve na PUC/RJ em 1965 e foi instigado a explicar o racismo em seu país, Estados Unidos. O então irmão do presidente dos EUA volta com uma outra pergunta: “Não vejo nesta reunião nenhum negro sequer”. Essa passagem é importante para se debater em sala de aula pois reproduz o comportamento do brasileiro que se apega a democracia racial para não pensar os próprios privilégios e omitir as desigualdades sociais pautados na raça. No Brasil racista é sempre o outro.

O livro é cheio de bizus e dicas para professores de todas as áreas não só os de história de como repensar a forma de ensinar sobre a escravidão. Dados omitidos devem ser explorados, autores negros devem fazer parte da bibliografia. Não é uma caça a culpados, mas uma nova forma de falar o que aconteceu.

Funciona como um guia. Cada capítulo se encerra com sugestões bibliográficas para se aprofundar no assunto falado.

Joel Rufino dos Santos




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