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31 março 2020

Martinho da Vila Reflexos no espelho

O livro não é apenas sobre Martinho da Vila, é um aulão detalhado sobre a cultura brasileira. A autora começa nos dando uma visão sobre o processo civilizatório brasileiro africano que é e marcada pela invisibilidade. 

De caráter comunitários irmandades e sociedades negras foram fundadas. A religião de matriz africana fizera parte do alicerce para a construção da nação brasileira. Negros baianos livres e seus descendentes migraram para o Rio de Janeiro abrindo as primeiras casas de candomblé.  Os saberes tradicionais estavam sempre ali para prestar socorro na ausência de assistência médica nas favelas. 
Dr Theodora didaticamente nos trás uma gama de conceitos das manifestações culturais e religiosa do Brasil: Favela, cordões, formação das escolas de samba, o significado de cada componente, significado da alas, o samba enredo e suas mudanças ao longo do tempo, Folia de Reis, resenha da historia da Vila Isabel, o jongo, congada, religiões de matriz africana, o poder feminino, significados das comidas nos festejos. A contextualização histórica desse livro é esplendida.

Martinho Jose Ferreira conhecido como Martinho da Vila nasceu em 1938 em Duas Barras - RJ, local envolto de muita cultura negra e de culto a ancestralidade. Foi ainda pequeno para o Rio de janeiro e se consagrou no bairro de Vila Isabel. Primeiro bairro planejado do Rio de Janeiro de nome em homenagem a princesa Isabel que promulgou no dia 28 de setembro a Lei do Ventre Livre libertava as crianças negras nascidas a partir daquela data, mas as deixava sob tutela de seus senhores até os vinte e um anos em regime de escravidão. 

Casou-se três vezes. Hoje está casado com Cléo, a pretinha, a quem ele dedicou a música Que preta, que negâ.  Ela tinha 15 anos quando se conheceram, de Porto Alegre, participou de um dos seus clip. Pegou o telefone dela, ligou incessantemente então  vai a  Porto Alegre encontra-la. Se encontraram em seu hotel,  marcaram de sair pra jantar. Ele tentou beija-la e ela pensou “Nunca beijei um preto na minha vida. E agora meu Deus? Ele insistiu e foi carinhoso, mas Cléo só beijava de boca fechada.  Em vários encontros eram apenas beijos que chegava a machucar os lábios porque ela usava aparelho. Cleo chegou a pensar que ele era gay. E com ela Martinho se casou no civil e no religioso.

 Aos 13 anos Martinho já participava de escola de samba. Aos 16 compôs seu primeiro samba enredo. Na primeira década de sucesso ajudou na transformação cultural do país incluindo a mudança no estilo dos sambas enredo.  Em foi 67 se classificado no festival da Record com um partido alto. 

Recebe negativa de um projeto com vários sambistas. O humorista Serginho do Porto vulgo Stanislaw Ponte Preta na mesma época fez uma peça em cima do samba  “Samba do crioulo doido”, um espetáculo recheado de racismo recreativo qual o foco era desqualificar os sambistas negros. Martinho reagiu e montou o espetáculo Nem todo crioulo é Doido.

Stanislaw Ponte Preta
Vila Isabel Escola de coração de Martinho foi fundada em 1946. Confesso que já foi minha escola xodó (eu sou Salgueirense) mas ... Meu ranço começou em 2017 quando a escola colocou na avenida o abre alas que era  um navio negreiro hitech conduzido por uma mulher branca, um tumbeiro  com muita luz, arejado e com alegria porque já chega de dor, segundo as palavras de Fátima Bernardes, em 2019 o enredo foi princesa Isabel, e ao invés de contextualizar a escravocrata entoaram “ Viva a princesa e o tambor que não se cala. É o canto do povo mais fiel. Ecoa meu samba no alto da serra. Na passarela, os herdeiros de Isabel”, herdeiros de Isabel??? E pra fechar em 2020 o enredo foi Brasília e eu me recuso a comentar. 

Martinho é um artista que leva o Brasil para o mundo. Conexão forte com o continente africano onde foi várias vezes e tantas outras trouxe artistas Angolanos para parceria nos palcos no Brasil. Percorreu a Europa, gravou em Frances. Inovou a capa de seus discos com projetos gráficos bem elaborados. Sempre muito inovador.

Um dos principais contribuintes para a formação de nossa identidade negra. Sua marca era exaltar nossa herança africana, nas suas composições pudemos ter contato com os tambores, a religião, o idioma, culinária, costumes, todo tipo de influência civilizatória é possível encontrar em sua arte ao longo de sua vida. Se declara não conhecedor profudamente de religião, quando precisa para o trabalho recorre a pesquisadores.

Dr Helena Theodoro
Cantor, compositor, produtor, escritor, Doutor Honoris Causa, empresário. UM GÊNIO. 

Não tem problema para falar bem de si mesmo, se auto elogia sem acanhamento. 

Em sua trajetória fez muitas parcerias quase todas com homens, lançou Jorge Aragão e Almir Guineto e muitos outros. Fez uma música a pedido de Alcione que já era famosa, compos para Jacira Silva, mas que veio a falecer antes de gravar.

Tem uma história que ele estava em são Paulo e junto com Joao Bosco foi de bar em bar, passou por um bar cheio de “piranhas” e foi para outros. A procura de um taxi passou por uma baiana quituteira que vendia cocada batucando com as mãos e cantando vários sambas roda que ele não conhecia, fiquei super mega ansiosa pelo fim da historia achando enfim ele voltaria a procurar a baiana e propor parceria de composição ou lançar a baiana como ele fez com muitos homens mas não rolou. Ele pegou o insight e compôs com o Joao Bosco.


Martinho teve seus momentos meio weird fez um samba em homenagem a menarca da filha, em outro chamado mulata faceira dizia que ela fazia de tudo pra o agradar, mas ela vacilou e ele castigou, declarou em 1986 que pagode sem mulher dando sopa não da pé e só fica realmente “da pesada” quando rola uma sopa com varias colheres no mesmo prato.
 
Martinho é como se fosse da minha família cresci ouvindo suas músicas. Não havia um almoço de domingo ou dia de arruma a casa que esse vinil não tocasse repetidamente. Uma lembrança engraçada é que no ensino médio eu tinha uma amiga chamada Alba Valéria que tinha uma tia que era obcecada pelo Martinho e o comentário dessa tia era que Martinho catava muito sexy, parecia eu ele estava gozando em cada melodia. Experimentem ouvir Malandrinha e depois me falem se concordam.

 Cantamos para difundir a oralidade, pra trabalhar, pra nos divertir, de tristeza... segue a dica do Martinho: Canta, canta, minha gente.

Martinho da Vila




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