Sulwe é uma menina preta retinta no meio de pessoas negras com outros tons de pele. Ainda não discutimos o colorimos no Brasil com a seriedade que a pauta merece. Mas sem citar autores, sem usar teóricos para contextualizar de fato todos sabemos que quando mais escuro o tom de pele mais esse corpo é vulnerabilizado a violências de todo tipo. Entre nós negros também. Quem nunca teve seu braço colocado em paralelo a outro para saber qual o mais escuro? Quando se é o primo mais preto (a) é o mais levado, “olha a corzinha” é o que ouvimos. Crescemos ouvindo a prima negra de pele clara com o cabelo que cresce e da pra fazer Maria Chiquinha, olhos cor de mel ouvindo os melhores elogios. E nós de pele bem preta somos ou a má ou a boazinha trabalhadeira. A construção de nossa beleza demora e as vezes chega tarde demais pois os traumas já machucaram tanto que tem feridas que nunca cicatrizam.
A culpa é dos negros? NÃO. A culpa é do racismo.
No caso do Brasil temos nomes bem pontuais como Gilberto Freyre, Nina Rodrigues, Monteiro Lobato como pessoas que apoiavam a eugenia e o clareamento da raça como forma de “melhoria”.
A solidão da mulher negra retinta vai muito além de relações afetivas românticas. A construção de amizade, a aceitação da família, a formação de vínculos na escola e no trabalho, a maternidade de um filho com pele mais clara. Tudo isso tem atravessamento diferente quando se tem a pele preta.
O livro veio a dar voz a uma dor que fica engasgada na garganta das meninas pretas. Deu voz pra mim. Eu fui uma menina de pele preta e vivi muita coisa que não tinha com quem compartilhar, ou quando tentava era taxado de “bobeira”.
Hoje no Brasil com os ganhos sociais através da luta dos movimentos negro, está havendo uma retomada da identidade negra.
Mas infelizmente nós que nunca gozamos nem por um segundo de algum tipo de passividade onde pudéssemos transitar racialmente em outros espaços estamos sendo taxados de loucos, militudos opressores por querer falar do nosso lugar e de nossa dor enquanto retintos. Há quem diga que o termo retinto e pardo devam deixar de existir porque todo mundo é preto. Mas quem tem a tinta preta na pele sabe que não é bem assim.
Sulwe tenta clarear sua pele com borracha, maquiagem, alimentos. Banhos de leite, pregador no nariz, toalha pra imitar cabelo... quantas estratégias são utilizadas até hoje são utilizados.
A indústria de clareamento de pele é bilionária pelo mundo. África e Ásia são os campeões no tratamento e a fortuna fica para os brancos.
Lupita foi muito feliz em seu livro, quem me dera eu tivesse um livro pra me falar sobre a minha beleza, e pra falar que me entende quando me sentia sozinha. É bom quando falam do que é preciso ser dito. O tal “não liga não” só nos sufoca.
O importante do livro é que ele não fala que a criança se sente diferente, mostra que há tratamento diferente pra quem tem a pele mais preta tem a mãe pra de apoio. A família sendo base de tudo.
Lupita quando entrevistada pela Oprah para falar do livro chora ao lembra de sua experiência e o que a motivou escrever esse livro.
Só tenho a agradecer a essa Deusa por falar o que tem que ser dito.
O livro conta a história de uma menina preta que tem pele mais escura que seus pais e irmãos negros e é tratado diferente na sociedade. É uma criança que tem dificuldade de interação social e não consegue reconhecer a própria beleza e pede a Deus para que sua pele fique mais clara.
A ilustração do livrou foi feito por uma mulher negra então não tem cabelos de arame, olhos esbugalhados, pés desproporcionais ao copo e nem cores que não correspondam com a cor da pele, a tradução foi feita por uma mulher negra, o respeito ao que a Lupita quis passar foi mantido na linguagem usada pela tradutora.
Quando uma mulher negra escreve sobre a mulher negra e quando uma mulher negra faz ilustração da mulher negra o meu coração chega a perder o ritmo, quando uma mulher negra traduz uma mulher negra.
Comprem para todas as crianças e para os adultos.
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